O livro, sem chegar a ser inteiramente ruim, não deve ser publicado. Padece de uma indefinição estético-político-existencial que, no fim das contas, boicota aquelas boas páginas de prosa poética às quais a narrativa chega, aqui e ali, como se topasse com inesperados mirantes adoráveis numa caminhada por montanhas de mata fechada, entre nuvens de borrachudos. A autora é notória e ativamente homosssexual, como sabem os leitores de colunas sociais. Isso poderia ser meio caminho andado. Infelizmente, seu romance sobre um grupo de vendedoras da Avon nos anos 70 não tem pegada – nem pegação – suficiente para ser literatura gay. Tampouco tem sensibilidade suficiente para ser literatura feminina. Terá, então, ódio suficiente para ser literatura feminista? Também não. Difícil saber o que pretendia a autora. (Fazer literatura com L maiúsculo? Essa é muito boa.) Sua indefinição de gênero – em diversos sentidos – se estende também à forma literária. Melodrama? Farsa? Sátira social? Alegoria? Tragédia? Prosa experimental? Nenhuma das alternativas acima? Todas? Definitivamente, o que “Tantas lindas campainhas esgoeladas” tem de melhor é o título. Pode valer a pena encomendar à autora um novo livro para acompanhá-lo. O texto acima teria sido encontrado na lata de lixo de uma grande…