A autora nunca me interessou terrivelmente, mas comecei a ler seu diário de juventude com uma vaga curiosidade e fui até o fim. São cheias de reflexões como essas aí embaixo – cruas, nervosas, às vezes meio adolescentes, mas transpirando sinceridade – as anotações que a escritora e pensadora americana Susan Sontag (1933-2004) manteve de 1958 a 1966, basicamente entre Paris e Nova York, enquanto lutava para se inventar como escritora. Como atração colateral, vale a pena fingir por um momento que estamos lendo os posts de uma aspirante a escritora do século XXI: o estilo blogueiro já estava maduro há meio século, só faltava o meio. Uma tradução do diário de Susan Sontag acaba de ser publicada pela revista “Granta” em espanhol – acesso livre, em pdf, aqui. 31 de dezembro de 1958: Por que é importante escrever? Sobretudo por egoísmo, suponho. Porque quero ser esse personagem, uma escritora, e não porque haja algo que deva dizer. Mas por que não também por isso? Com um pouco de construção do ego – como mostra o fait accompli deste diário – emergirei lá na frente com a confiança de que eu (eu) tenho algo a dizer, algo que deve ser…