Clique para visitar a página do escritor.
Machado de Assis negro
Posts / 06/02/2007

No que toca à questão étnica abordada nos romances, pode-se constatar que, além de não ter se esquivado dos problemas que afetavam os afro-brasileiros, Machado fala de seus irmãos de cor como sujeitos marcados por traços indeléveis de humanidade e por um perfil que quase sempre os dignifica, apesar da posição secundária que ocupam nos enredos. Impõe-se destacar que essa ausência de protagonismo está em homologia com o papel social por eles desempenhado, caracterizado pela subalternidade da condição e pela redução a mera força de trabalho, como já demonstrou Gizêlda Melo do Nascimento (2002). Ainda assim, o escritor, se não os eleva a heróis épicos da raça ou a líderes quilombolas, o que de resto comprometeria a verossimilhança do universo citadino e burguês representado nos textos, também não os limita ao formato estreito advindo dos estereótipos dominantes no imaginário social do Segundo Reinado. O livro “Machado de Assis afro-descendente”, de Eduardo de Assis Duarte (Pallas/Crisálida, 288 páginas, preço a definir), professor de literatura da Universidade Federal de Minas Gerais, supre uma lacuna nos estudos machadianos ao levantar na obra do gênio brasileiro os textos e trechos de textos que lidam de alguma forma com o problema da escravidão. A velha…

Autodefesa literária
Posts / 05/02/2007

Sabe aquela prosa cortante? Aquele estilo contundente? O conto que é um soco na boca do estômago? O poema que é um tapa na cara do leitor? (Para não mencionar, por educação, o escritor que é um pé no saco?) Seus problemas acabaram. O blog Ao Mirante, Nelson! descobriu a solução – veja o vídeo aqui.

Começos inesquecíveis: Paul Auster
Posts / 04/02/2007

Seis dias atrás, um homem morreu em uma explosão à beira de uma estrada no norte de Wisconsin. Não houve testemunhas, mas parece que ele estava sentado na grama junto a seu carro estacionado quando a bomba que montava detonou por acidente. Segundo o relatório da perícia divulgado há pouco, o homem teve morte instantânea. Seu corpo explodiu em inúmeros pedacinhos, e fragmentos do seu cadáver foram encontrados a até quinze metros do local da explosão. Até hoje (4 de julho de 1990), ninguém parece ter a menor idéia de quem era o morto. Ninguém menos o narrador, é claro. E logo, se não abandonar o romance, o leitor poderá se juntar a ele. Tudo isso – para não mencionar a promessa, que será cumprida, de estudo ficcional sobre um tema que desde então só faz ficar mais atual e doloroso, o terrorismo – está contido nas linhas iniciais do excelente “Leviatã” (Companhia das Letras, 2001, tradução de Rubens Figueiredo), meu livro preferido de Paul Auster, lançado em 1992. Muito antes, portanto, de virar modismo entre intelectuais brasileiros espancar o escritor mais famoso do Brooklyn, como se ele fosse um escrevinhador chinfrim. Modismo gratuito, como quase todos, mas que parece…

Um romance a dez mil mãos
Posts / 03/02/2007

Imagine um romance escrito nos moldes da Wikipedia, com cada autor contribuinte tendo o poder de pôr e tirar, escrever e cortar tanto o seu trabalho quanto o dos outros. O “projeto” – como o chamam com certa pompa seus criadores, gente da editora Penguin em parceria com uma universidade inglesa – leva o nome de A million penguins (“Um milhão de pingüins”) e está no ar desde quinta-feira, aqui. (Se a página não abrir logo, dê um tempo e tente de novo. Volta e meia, o serviço tem andado “temporariamente indisponível”, num sinal de sucesso maior que o esperado: em dois dias, o romance já chegou ao capítulo 7.) Não, claro que uma coisa dessas não tem a menor chance de dar certo num sentido, vamos dizer, estético. Mesmo tendo regras mais ou menos estritas e contando, como conta, com um time de “moderadores profissionais” escalado para zelar 24 horas por dia pela qualidade do material, editando a edição dos colaboradores, o resultado da empreitada tem tudo para ser pífio. O primeiro parágrafo provisório do romance – isto é, no momento em que escrevo – sugere que “pífio” talvez venha a se provar um adjetivo pálido. Vai uma tradução…

Parece um parecer
Sobrescritos / 01/02/2007

O livro, sem chegar a ser inteiramente ruim, não deve ser publicado. Padece de uma indefinição estético-político-existencial que, no fim das contas, boicota aquelas boas páginas de prosa poética às quais a narrativa chega, aqui e ali, como se topasse com inesperados mirantes adoráveis numa caminhada por montanhas de mata fechada, entre nuvens de borrachudos. A autora é notória e ativamente homosssexual, como sabem os leitores de colunas sociais. Isso poderia ser meio caminho andado. Infelizmente, seu romance sobre um grupo de vendedoras da Avon nos anos 70 não tem pegada – nem pegação – suficiente para ser literatura gay. Tampouco tem sensibilidade suficiente para ser literatura feminina. Terá, então, ódio suficiente para ser literatura feminista? Também não. Difícil saber o que pretendia a autora. (Fazer literatura com L maiúsculo? Essa é muito boa.) Sua indefinição de gênero – em diversos sentidos – se estende também à forma literária. Melodrama? Farsa? Sátira social? Alegoria? Tragédia? Prosa experimental? Nenhuma das alternativas acima? Todas? Definitivamente, o que “Tantas lindas campainhas esgoeladas” tem de melhor é o título. Pode valer a pena encomendar à autora um novo livro para acompanhá-lo. O texto acima teria sido encontrado na lata de lixo de uma grande…