Medo do futuro? Imagine! Creio que dificilmente ficaremos em situação pior do que já estivemos. Só pode ser pior uma guerra, e não creio que isso ocorra de jeito nenhum. Seria bom haver uma transição, e que ela se desse com a menor violência possível. Me eduquei na escola comunista, me pintaram um futuro soviético maravilhoso e aí está o que aconteceu. Este país está esgotado e cansado, está apodrecido, esta é a palavra. Quando ouço intelectuais daqui ou de fora falarem da revolução cubana, não sei do que estão falando. Nasci em 1972 e conheci a era soviética e a queda do muro de Berlim. Em Cuba houve um pouquinho de abertura em matéria de direitos civis e um grande desastre econômico. Mas para mim isto aqui é uma ditadura estabelecida e agonizante, não vejo nada de revolução nisso. O “Babelia”, suplemento literário do jornal espanhol El Pais, um dos melhores do mundo no gênero, foi à Feira do Livro de Havana ouvir escritores cubanos sobre o clima na ilha neste momento de indefinição, expectativa, medo e algum otimismo inaugurado pela doença de Fidel Castro. O depoimento acima, de Ena Lucía Portela, considerada uma das grandes revelações da ficção…