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Kundera e a cilada do Machado anônimo
Posts / 06/03/2007

Uma das armadilhas favoritas do antiintelectualismo – doença crônica da nossa cultura; a outra é o intelectualismo – foi reeditada pela “Folha de S. Paulo” alguns anos atrás, ao submeter anonimamente às principais editoras do país um conto de Machado de Assis como se fosse de um autor inédito em busca de publicação. Tempos depois o repórter recebeu, previsivelmente, algumas cartas de recusa e – oba, escândalo! – uma coleção de silêncios glaciais. Ahá. Quer dizer que nosso sistema de avaliação de mérito literário está montado sobre pressupostos hipócritas? Então o grande Machado de Assis, despido de seu nomão, vale tanto quanto um pobre coitado qualquer? Tinham razão os Titãs quando cantavam que “ninguém sabe nada”? Blá, blá, blá. Bem, os Titãs sempre têm alguma razão. Que uma dose de hipocrisia entra nesse jogo, não dá para negar. O problema é que o truque que supostamente a denunciaria não denunciava nada. Graça jornalística à parte, a armadilha usada pela “Folha” era desonesta, mais afeita à mistificação do que à desmistificação que fingia abraçar, como uma seqüência de dribles para o lado no meio-de-campo. Por quê? Simples: porque qualquer autor que escrevesse hoje, vírgula por vírgula, como Machado de Assis –…