Da grande geração de escritores ingleses que integra com Ian McEwan, Martin Amis e Salman Rushdie, Julian Barnes é o mais “europeu”, no sentido de sofisticado, afeito a sutilezas de composição e pensamento, numa tradição assumidamente francófila – pecado quase imperdoável em sua ilha. O que o torna também, previsivelmente, o de menor sucesso comercial dos quatro. Autor da obra-prima “O papagaio de Flaubert”, uma mistura de ensaio e ficção em que acerta contas com sua grande admiração literária, Barnes volta, em “Arthur & George” (Rocco, tradução de Léa Viveiros de Castro, 448 páginas, R$ 53,50), a transformar uma figura real da história da literatura em tema. Mas desta vez, embora a variedade sempre tenha sido uma marca de sua obra, surpreendeu até quem já esperava uma surpresa. O escritor cuja vida ele romantiza é popular e inglês até a alma: Arthur Conan Doyle, o criador do detetive Sherlock Holmes. E o livro, o mais convencional que Barnes já escreveu. Ficção histórica consistente, cheia de pesquisa, “Arthur & George” conta em contraponto as histórias do médico Arthur Conan Doyle e de outro personagem real, o advogado George Edalji. Trata-se de dois antípodas: um inglês atlético e bem sucedido, um descendente…