A vocação de todo microconto decente é crescer sem ser visto. Os personagens do microconto caminham de perfil. A tentação da piada é o cupim do microconto. Quanto mais breve pareça, mais lentamente se há de lê-lo. Não sou um fã da narrativa ultracurta, que nos últimos anos anda gozando de certa popularidade – parece que mais entre escritores do que entre leitores, mas popularidade de alguma forma. Gosto da concisão da prosa que se comprime até ser quase poesia, mas meu prazer de leitor é maior quando ela vem combinada a efeitos que só a duração proporciona. Mesmo assim, gostei de ler a reportagem de capa da última edição do “Babelia” sobre “a febre” do microconto. Tem delícias como os aforismos acima, do escritor argentino Andrés Neuman. Que não são, em si, microcontos, mas refletem sobre o formato com impressionante economia de meios.