Países soberanos têm o direito de trocar de nome e exigir que o mundo reforme seus idiomas para adaptá-los ao novo batismo? Antes de responder que sim, vale a pena examinar mais de perto esse rolo, tornado atual pela agitação política na Birmânia – ou seria melhor escrever, como tem feito a imprensa brasileira em peso, ex-Birmânia, atual Mianmar, Myanmar ou Mianmá? Se é justo que a autodeterminação dos povos inclua algum poder sobre o modo como o mundo os chama, também é verdade que o processo de renomear países, regiões e cidades, por envolver razões políticas variadas e mexer com fatores lingüísticos seculares, não deve ser automático, como muita gente o encara. O pensamento politicamente correto explica a boa vontade com que, sem refletir muito, boa parte de nós tende a encarar tais mudanças – mesmo quando elas não envolvem um rebatismo propriamente dito, mas apenas uma nova transliteração, um novo jeito de transportar palavras de um alfabeto a outro, como nas recentes tentativas de “transformar” Bombaim em Mumbai e Pequim em Beijing. Quando o nome muda de verdade, a luta contra a herança colonial explica a maioria dos casos: foi assim que a Rodésia do Norte virou Zâmbia…