“Tupi or not Tupi, that is the question.” A provocação lançada pelo escritor modernista Oswald de Andrade em seu “Manifesto antropófago”, de 1928 – uma brincadeira com o “ser ou não ser” de Hamlet – tem ressonâncias profundas na história do Brasil. Mais profundas do que podem parecer neste início de milênio em que Tupi, para a maioria dos brasileiros, é pouco mais que o nome indígena de um campo da Petrobras na Bacia de Santos, onde foram encontradas reservas que podem transformar o Brasil em exportador de petróleo. As reservas vocabulares deixadas pelo tupi no português brasileiro também são vastas, estimadas em torno de dez mil palavras. O tronco tupi compreende dez famílias lingüísticas que ainda sobrevivem espalhadas pela América do Sul, com maior concentração no Brasil. Durante os primeiros séculos da colonização portuguesa, porém, sua vitalidade impressionava. Na vertente tupinambá, da família tupi-guarani (da qual se tornaria uma palavra sinônima), o tupi teve sua gramática sistematizada pelos jesuítas. Depois de incorporar traços da cultura invasora, deu origem às “línguas gerais”, as mais faladas no dia-a-dia da colônia: a paulista, disseminada pelos bandeirantes, e a amazônica, também chamada nheengatu (“língua boa”) ou tupi moderno. As línguas gerais foram declaradas…