A cara-de-pau não é apenas um regionalismo brasileiro, usado com o mesmo sentido – de descaramento, desfaçatez, cinismo, desembaraço diante dos maiores apertos – que, em algumas regiões de Portugal, tem a expressão “cara estanhada”. Mais que um jeito de falar, trata-se de uma instituição, como provam mais uma vez casos como a farra dos cartões corporativos e o escândalo que envolve o reitor da UnB. É difícil dizer quando surgiu a cara-de-pau – e aqui estamos falando do termo, naturalmente, visto que o comportamento nomeado por ele é tão velho quanto a humanidade. Ausente de dicionários antigos, a palavra composta, que tanto pode exercer o papel de substantivo quanto o de adjetivo, aparece nos léxicos modernos como uma forma subsidiária de “caradura”, vocábulo hoje menos usado, do qual é provavelmente uma variação cômica. Se caradura foi registrada pela primeira vez por um lexicógrafo em 1913, as abonações literárias de cara-de-pau que aparecem no bom “Dicionário de Usos do Português do Brasil”, de Francisco S. Borba, datam dos anos 1960 e 1970 e foram extraídas de obras célebres por fixar a linguagem falada no submundo de grandes cidades brasileiras, como “Navalha na carne”, de Plínio Marcos, e “Malagueta, Perus e…