A palavra dossiê – do francês dossier, “conjunto de documentos sobre determinado assunto ou pasta em que eles são agrupados” – é um bom exemplo de estrangeirismo que criou raízes rapidamente em nossa língua e parece disposto a se tornar eterno. Alcançou essa proeza graças à capacidade de, justamente por não pertencer ao velho vernáculo, se revestir de uma grossa camada de conotações excitantes, misteriosas e explosivas, que a literatura tratou de explorar. Com suas promessas de segredos cabeludos, seria um evidente empobrecimento trocar hoje a palavra dossiê por uma tradução técnica e convencional na linha de “documentação, processo, pasta”, como sempre pregaram os puristas, defensores de uma pureza (impossível) do idioma. Se alguma dúvida a respeito disso ainda persistia, o papel turbulento desempenhado pelos dossiês na política brasileira recente tratou de liquidá-la. O primeiro registro do vocábulo em nossa língua data de 1958, segundo o dicionário Houaiss. Muitos séculos, portanto, depois do surgimento dessa acepção de dossier em francês, derivada no fim das contas do latim vulgar dossum, “dorso, costas” – provavelmente em referência à pasta em que se agrupam os tais documentos, com sua etiqueta no dorso. Seja como for, após seu desembarque por aqui o dossiê não…