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Crônica da agonia carioca
NoMínimo / 16/04/2008

Existe uma cidade, uma cidade belíssima, que está indo para as cucuias. Mas, coisa curiosa, a literatura que nela se produz não parece muito interessada em refletir isso. Consciência do próprio caráter de artifício, alergia a temas que possam ser considerados políticos, esteticismo, cinismo ou apenas vocação para outros tipos de olhar, o fato é que a maioria dos escritores do Rio (e eu me incluo aí) tem adotado um certo ar blasê enquanto o velho espírito carioca estrebucha na calçada. Como se, sei lá, precisássemos fingir que é dor a dor que deveras sentimos. Fernando Molica é uma exceção. Sendo também jornalista, e dos bons, há anos se ocupa de traduzir os signos mais vistosos dessa queda, que na imprensa são rasos e febris, ruído puro, para a linguagem saturada de sentido da literatura. Correndo os riscos embutidos em seu projeto – inclusive o de ser visto como herdeiro do populismo literário de um José Louzeiro, coisa que não é –, divide sua fé em doses iguais entre realidade e ficção, sem fazer caso excessivo da desconfiança que nossa época devota a ambas. A sobriedade desse olhar realista mas bem-humorado, que repudia esquemas absolutos e tramas mirabolantes, é uma…