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A ortographia de Paraty
NoMínimo / 30/06/2008

Não fui à primeira Flip, em 2003, uma edição que ficou na história da festa como mito fundador, o Éden de gatos pingados que veio antes da Queda na massificação. No entanto, como descobri ao revirar meus arquivos agora há pouco, não deixei o assunto passar em branco. Num de meus primeiros artigos para o extinto NoMínimo, com o título acima, em agosto de 2003, falei da festa pelo ângulo de um quebra-pau supraliterário – ou infraliterário, pode escolher – que, embora não seja do tipo que muda a vida de ninguém, também não merece ser tratado como se não existisse. Afinal, a cidade se chama Parati ou Paraty? Como a dupla grafia domina a imprensa até hoje, confundindo muita gente, reproduzo abaixo a crônica de (homessa!) cinco anos atrás, que tenta encontrar resposta um pouco mais ilustrada para uma questão normalmente resolvida com o recurso simplório a leis federais, municipais etc. Em tempo, prefiro escrever Parati por uma razão simples: morro de medo de um precedente que inspire vereadores numerólogos e/ou caipiras a rebatizar suas cidades de Floreepa, Cuyabah, Seaureaukabba… * Falou em ortografia, o pessoal se empolga logo. Muita gente tem escassa disposição para enfrentar questões de língua…

Começos (ainda) inesquecíveis: J.M. Coetzee

A retrospectiva da seção dá um salto no tempo para ir entrando no clima da Flip. Esse sul-africano esquisitão aí ao lado foi responsável pelo momento mais polêmico – para mim e outras cinco pessoas o melhor, para a maioria do público um desastre – da festa paratiense do ano passado. O post abaixo foi publicado em 3/3/2007. * Para um homem de sua idade, cinqüenta e dois, divorciado, ele tinha, em sua opinião, resolvido muito bem o problema de sexo. Nas tardes de quinta-feira, vai de carro até Green Point. Pontualmente às duas da tarde, toca a campainha da portaria do edifício Windsor Mansions, diz seu nome e entra. Soraya está esperando na porta do 113. Ele vai direto até o quarto, que cheira bem e tem luz suave, e tira a roupa. Soraya surge do banheiro, despe o roupão, escorrega para a cama ao lado dele. “Sentiu saudade de mim?”, ela pergunta. “Sinto saudade o tempo todo”, ele responde. Acaricia seu corpo marrom cor-de-mel, sem marcas de sol, deita-a, beija-lhe os seios, fazem amor. E já que andamos falando do homem, vai aí o começo do tétrico romance “Desonra”, obra-prima do escritor sul-africano J.M. Coetzee (Companhia das Letras,…

Propina
A palavra é... / 28/06/2008

Num momento em que se teme uma explosão do mercado de propinas como efeito colateral da lei de tolerância zero para o álcool no trânsito, vale lembrar que a palavra, como se sabe, quer dizer gorjeta, gratificação extra por serviço prestado, mas não traz de berço conotações de prática escusa. Se no Brasil ela é empregada quase exclusivamente em contextos negativos, como parte do arsenal da corrupção, isso tem mais a ver com nossa cultura do que com sua etimologia. A propina surgiu no século 17, vinda do latim tardio propina, “dar de beber”, termo saído por sua vez do grego por um caminho curioso. Quem explica é o dicionarista Rafael Bluteau, autor do clássico Vocabulário Português e Latino: “Propinar – Os latinos tomaram esta palavra dos gregos, os quais nos seus banquetes costumavam encher um copo de vinho, e depois de dizer Tibi propino, ‘Bebo à tua saúde, ou faço-te um brinde’, bebiam um trago, e logo davam o copo a algum dos convidados”. Propina nasceu, assim, como o ato – legítimo e até elegante – de dar de beber e comer a quem se desejava agradar ou homenagear. Ninguém precisa ser cínico para enxergar aí o caldo de…

A ‘gratuidade magnífica’ de Jayme Ovalle
NoMínimo / 27/06/2008

Muso, personagem e guru de Manuel Bandeira e uma penca de nomes estelares do modernismo brasileiro, Jayme Ovalle (1896-1955) é a mais curiosa figura daquela geração. Artista sem obra – ou quase isso, embora fosse compositor talentoso e tenha emplacado um clássico, “Azulão” –, encarnou como ninguém o espírito de gratuidade, boemia e improvisação dos que fazem da própria vida matéria de arte e estão, bem, bebendo e andando para organizar essa bagunça em nome da posteridade. Virou mito, mas pagou um preço alto: por trás da lenda, quase sumiu. Não é exagero dizer que só agora, ao ganhar uma biografia, sua obra-vida fica completa. “O santo sujo – A vida de Jayme Ovalle” (Cosac Naify, 400 páginas, R$ 55) está saindo numa daquelas edições primorosas que viraram a marca da editora paulistana depois de custar a seu autor, o jornalista mineiro Humberto Werneck, quase duas décadas de trabalho – um trabalho repleto de interrupções e adiamentos, naturalmente, como o biografado seria o primeiro a compreender. Werneck, autor também de “O desatino da rapaziada – Jornalistas e escritores em Minas Gerais” (Companhia das Letras), estará na próxima quinta-feira numa mesa da Flip, ao lado de Xico Sá, para falar de…

Os mais traduzidos
NoMínimo / 26/06/2008

Em primeiro lugar, Walt Disney. Em segundo, Agatha Christie. Para provar que a língua inglesa é forte mas não é tudo, o pódio é completado por Jules Verne. Em quarto lugar, à frente de Shakespeare, uma surpresa saborosa: Lênin. A lista completa dos cinqüenta autores mais traduzidos do mundo desde 1932 segundo a Unesco, com o número de edições em línguas estrangeiras de cada um, pode ser consultada aqui. (Via blog da “New Yorker”.) Como curiosidade, está valendo. Não tenho nada contra essa promiscuidade de ficção e não-ficção, literatura “literária” e de massa. Mas que há algo de profundamente injusto em pôr a corporação do empresário Disney para brigar com autores de verdade, há.

Lendo ‘Chiquita’ em Havana
NoMínimo / 25/06/2008

Graças aos amigos que colhi através deste blog, chegou às minhas mãos o romance “Chiquita”, ganhador do Prêmio Alfaguara deste ano. É provável que eu tenha um dos poucos exemplares que há na Ilha, o que me obriga a lê-lo depressa e passá-lo à fila de amigos que esperam por ele. As mais de quinhentas páginas escritas por Antonio Orlando Rodrigues são atraentes não só pela história que narram, mas pelo círculo de mistério que envolve o próprio livro. Basta dizer que os meios oficiais cubanos ainda não anunciaram que um compatriota ganhou tão importante galardão. Os encantos do festejadíssimo – com razão – blog Generación Y, da cubana Yoani Sánchez, brotam da superposição de dois mundos inconciliáveis: a vida em Cuba, com seus milhões de anacronismos, e a consciência planetária de sua autora, uma jovem cevada na blogosfera sem porteiras do século 21. Essa superposição, livre de deslumbramento capitalista ou ranço programático, está na base do leque de efeitos que Yoani obtém: patéticos, cômicos, às vezes tristes de doer, em outras surpreendentemente ternos; quase sempre amargos, mas nunca derrotistas. Fidel Castro acaba de passar recibo. O post sobre o romance “Chiquita” (nada a ver com as “Chiquititas” da TV)…

Palavras jogadas fora
NoMínimo / 23/06/2008

Há risco de um autor como Guimarães Rosa ser esquecido ou ficar elitizado? Penso que é o contrário: o que não fica é o que é superficial, fraco e ruim. O dicionário “Houaiss” tem 400 mil palavras. O rádio, a televisão, o jornal, a literatura que se faz hoje não chegam a 20 mil: estão jogando fora 380 mil. Em entrevista (só para assinantes) à “Folha de S.Paulo”, a crítica literária Walnice Nogueira Galvão defende uma causa justa, a permanência de Guimarães Rosa, com o inacreditável argumento acima. Para começar, o “Houaiss” tem apenas “cerca de 228.500” verbetes, segundo a apresentação de Mauro de Salles Villar, da Academia Brasileira de Filologia, um dos diretores de sua equipe editorial. Mas isso não é o mais importante. A lógica quantitativa da autora de “Mínima mímica” (Companhia das Letras), recém-lançada coletânea de ensaios rosianos, me fez pensar num depoimento de Josué Montello sobre Machado de Assis, arquivado na Academia Brasileira de Letras: Certa vez, um mestre meu, Lourenço Filho, resolveu fazer o levantamento do vocabulário do “Dom Casmurro” e teve essa surpresa: não passava de 2 mil palavras. Com essas 2 mil palavras, Machado de Assis conseguira dizer tudo, só não disse –…

Começos (ainda) inesquecíveis: Rubens Figueiredo

Este post foi publicado pela primeira vez em 24/11/2006: * Não não. Papel, não. Ninguém vai falar de papel aqui. Não é coisa que se fale. Papel. Mas já reparou como tem papel por aí, espalhado, empilhado, grampeado, no mundo inteiro, um mundo de papel. Olha bem. Papel de parede, lenço de papel, papel-moeda, toda hora a gente está pegando ou olhando para um papel. Que nem você aí parado. E não precisa nem se mexer porque é aqui perto, bem pertinho, nessa página mesmo, que tem uma pessoa a um passo e a poucas páginas da maior complicação da sua vida por causa de um punhadinho bobo de papel. Não conheço muita gente que concorde comigo, mas lamento que Rubens Figueiredo tenha abandonado tão definitivamente o estilo efervescente de seus três primeiros livros, “O mistério da samambaia bailarina”, “Essa maldita farinha” e “A festa do milênio” – em que brincava desvairadamente com a linguagem em farsas rebuscadas e divertidíssimas –, para se dedicar aos meios-tons melancólicos de obras como “As palavras secretas”, “Barco a seco” e “Contos de Pedro”. Sim, foi esta segunda fase, sem dúvida competente, que tornou Rubens respeitado pela crítica brasileira. Mas eu, que sempre tive…

Dunga
A palavra é... / 21/06/2008

Dunga é o maioral, o ás, o bambambã, o batuta, o melhor de todos, o rei da cocada preta, o chefão. E para evitar que se interprete a frase anterior como uma defesa do contestado técnico da seleção brasileira, convém esclarecer que antes de ser o nome profissional do gaúcho Carlos Caetano Verri, capitão da equipe tetracampeã mundial em 1994, e mesmo antes do anão da Branca de Neve, dunga já era um regionalismo brasileiro, substantivo comum e adjetivo, com os sentidos listados acima. Ironia? Pode-se ler assim, claro. O próprio uso popular do termo dunga se presta a isso. Sua primeira acepção, de “sujeito sem igual em sua especialidade, exímio”, ganhou no Nordeste, segundo o dicionário Houaiss, um emprego irônico como “homem de influência local, chefe, mandão”. Convenhamos que, desde os tempos em que desfilava nos gramados suas qualidades de volante raçudo e dotado de forte espírito de liderança, Dunga, jogador de técnica limitada, estava mais para a segunda acepção do que para a primeira. Como a sonoridade não nega, dunga veio da África, afirma Nei Lopes, estudioso da cultura afro-brasileira e autor do Novo dicionário banto do Brasil. Lopes foi buscar sua origem no quicongo (língua da família…

Bolaño + metrô = Porsche?
NoMínimo / 20/06/2008

O subtítulo da reportagem de Leon Neyfakh para “The New York Observer” (via Gawker) torna a leitura simplesmente obrigatória: “Carregar ‘2666’ de Bolaño é como dirigir um Porsche conversível”. Como? Onde? Que paraíso é esse em que a prova de um romance charmoso que ainda não foi lançado (lá, claro) tem o mesmo poder de atração sobre o sexo oposto que os maiores símbolos de status jamais fabricados pelo engenho humano? Segundo a reportagem, o metrô de Nova York. Um lugar tão coalhado de belos jovens livrescos de ambos os sexos que um livraço inédito discretamente exibido vale mais que uma rebuscada dança do acasalamento. Bom, acaba que a história não é bem assim. O texto é muito divertido e sai testando sua hipótese com homens e mulheres, todos ligados à indústria editorial ou ao jornalismo cultural – quem mais teria acesso a provas tipográficas que valem por um carrão? O resultado é o retrato de um mundo de sonhos para ratos de livraria: quem disser que a literatura não tem nada a ver com sedução (como demonstra a pesquisadora) está mentindo. Excitante, mas alienígena. Não adianta tentar repetir o truque entre Botafogo e Central. De qualquer forma, a hipótese…

Por que os leitores se mudaram para Cabul
NoMínimo / 19/06/2008

Li o esboço de um debate interessante, embora incipiente, nas entrelinhas do “Rascunho” de junho. De um lado, o carioca Nelson Motta, de cuja literatura não sou propriamente um fã, diz numa longa entrevista coisas sensatas como esta: Faço uma literatura de entretenimento, uma literatura pop. Minha grande ambição é alegrar, divertir as pessoas, emocioná-las um pouco, esclarecer uma coisa ou outra. É para isso que eu rezo literalmente, todo dia, antes de escrever: para que meu trabalho possa alegrar, divertir e esclarecer. (…) Já é muito difícil você conseguir essas coisas. Muita gente que quer fazer arte não consegue sequer fazer um bom entretenimento. E, às vezes, naquilo que tem o espírito de entreter com leveza, você também encontra arte e profundidade. Do outro lado – num artigo que, a meu ver, acaba atirando em alvos demais – o pernambucano Raimundo Carrero, escritor de vôo estético mais longo e ambicioso, passa em certo momento por um caminho que corta o de Nelson Motta num ângulo inesperado. Carrero parte de um lugar-comum: fala de uma ficção “que se dilacera entre a obra de arte e a obra voltada apenas para o leitor, transformada em mercadoria”. Chega a criticar de passagem…

Um personagem para chamar de eu
NoMínimo / 17/06/2008

Num artigo para a revista The Chronicle of Higher Education (via Arts & Letters Daily), o crítico americano Michael Dirda conta que, há algum tempo, perguntaram-lhe numa sala de aula que personagem dos livros gostaria de ser. A resposta esperada, diz ele, era certamente “literária”, algo como Odisseu (Ulisses) ou Huckleberry Finn. Mas ele respondeu: “Bond, James Bond”. E explica por quê: “Ele tem os melhores brinquedos, atrai mulheres lindas e vence em todos os jogos, seja golfe, bacará ou – em Devil may care – tênis”. São todas boas e másculas razões, sem dúvida. Só faltou dizer que Bond tem que matar gente, muita gente, o que, para alguns de nós, basta para estragar tudo. Mesmo que os mortos sejam todos “malvados”, há quem prefira manter distância dessa prática. Fiquei pensando se a literatura brasileira tem alguém que eu gostaria de ser. Houve um tempo em que talvez respondesse Mandrake sem hesitação. Hoje não sei. Será que nossa galeria de heróis, quase todos atormentados, não se presta a esse tipo de brincadeira? Aceito sugestões.

A pesquisadora
Sobrescritos / 16/06/2008

Ela deu um meio sorriso de olhos baixos, como se tentasse ler desígnios superiores nos volteios dos pedaços de limão esmagados no fundo do copo, e disse que a maior ofensa que se costuma fazer às de sua espécie é supor como móvel de sua busca sem fim uma ilusão vizinha da loucura ou da imbecilidade – a de que os homens que dedicam a vida a simular outras vidas por escrito são mais gostosos ou tesudos, mais misteriosos ou desafiadores do que os mortais comuns. O meio sorriso virou uma gargalhada seca, tão áspera e alta que metade do bar se voltou na nossa direção, inclusive todos os garçons. Ela aproveitou para erguer o copo vazio com a mão esquerda e bater nele com a unha comprida do indicador direito, esmalte carmim, três pancadinhas que tilintaram longamente dentro do segundo de silêncio instaurado por seu riso. O garçom mais próximo assentiu com a cabeça e fez meia-volta. Se houver alguma relação, ela prosseguiu, é bem o contrário, escritores tendem a ser piores de cama do que a média dos homens: mais broxas, mais ejaculadores precoces, além de mais inseguros, mais ciumentos, mentirosos, desleais, descuidados, caspentos, fedidos, barrigudos, egoístas, frios,…

Começos (ainda) inesquecíveis: Hilda Hilst

Publicado pela primeira vez em 7/9/2006: * Deus? Uma superfície de gelo ancorada no riso. Isso era Deus. Ainda assim tentava agarrar-se àquele nada, deslizava geladas cambalhotas até encontrar o cordame grosso da âncora e descia em direção àquele riso. Tocou-se. Estava vivo sim. Quando menino perguntou à mãe: e o cachorro? A mãe: o cachorro morreu. Então atirou-se à terra coalhada de abóboras, colou-se a uma toda torta, cilindro e cabeça ocre, e esgoelou: como morreu? como morreu? O pai: mulher, esse menino é idiota, tira ele de cima dessa abóbora. Morreu. Fodeu-se disse o pai, assim ó, fechou os dedos da mão esquerda sobre a palma espalmada da direita, repetiu: fodeu-se. Assim é que soube da morte. Começa assim “Com os meus olhos de cão” (Editora Globo, 2001), novela lançada em 1986 pela escritora paulista Hilda Hilst (1930-2004). Ou assim começa sua parte em prosa: tomei a liberdade de excluir os doze versos curtos que a antecedem para ir direto a esse monumental, enigmático Deus “ancorado no riso”. Observa Alcir Pécora, organizador das obras reunidas de Hilda, que “o obsceno é nome do cordame grosso com que se desce a este fundo”. Acrescentar alguma coisa? Eu não. Ancorado…

Ressurreição
A palavra é... / 14/06/2008

O que o governo federal (ou seria melhor, diante da preocupação geral em não deixar impressões digitais, usar aqui um sujeito indeterminado?) está tentando fazer com a CPMF, poucos meses após sua morte, tem em nossa língua um nome cheio de conotações religiosas: ressurreição, do latim resurrectionis, parente do verbo ressurgir. Só pode ressuscitar – isto é, reanimar-se, manifestar-se outra vez – aquele ou aquilo que estava morto. Como se sabe, a ressurreição é uma impossibilidade no reino da ciência e, no dogma católico, um poder reservado a Deus. No mundo das metáforas, porém, nada nos impede de empregá-la com liberalidade. Entre muitos outros casos de volta à vida, fala-se por aí na ressurreição de modismos, de carreiras e até, no sentido figurado, de pessoas que estavam apagadas ou esquecidas. Se de algum tempo para cá ficou mais comum, pelo menos em certos círculos, usar nesses casos a palavra revival, emprestada do inglês, vale observar que ela significa a mesma coisa – não faltam nem os contornos religiosos. Ateus, agnósticos ou pessoas de outras orientações espirituais que se incomodarem com a forte carga cristã de ressurreição têm outras escolhas no dicionário. A primeira é clássica: tratar a CSS como uma…

Escritores de crachá
NoMínimo / 13/06/2008

O projeto de regulamentação da profissão de escritor, de autoria do deputado federal Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP), leva cascudos unânimes dos três escritores que Jonas Lopes ouviu para o post publicado hoje em seu ótimo blog Gymnopedies: Milton Hatoum, Antonio Fernando Borges e eu. Fiquei contente de ver minha opinião tão bem acompanhada, claro, mas ao mesmo tempo preocupado: se algum escritor não se levantar em defesa da coisa urgentemente, vou concluir que nossa tradição burocrática e cartorial é tão forte que dispensa até o apoio daqueles que teoricamente busca favorecer.

O diálogo e o diálogo de Richard Price
NoMínimo / 12/06/2008

Para quem, discordando de Moacyr Scliar, trata o diálogo literário com o respeito que ele merece, é imperdível o artigo (em inglês, acesso livre) publicado na New Yorker de abril por James Wood, o mais influente crítico literário americano deste início de século. Wood fala de Richard Price, a esta altura um nome já ascendido – mais do que em ascensão – na literatura policial de seu país. (Parêntese incontido: um crítico erudito que entende e respeita a literatura “de gênero”, que inveja!) Embora dois livros de Price tenham sido traduzidos há alguns anos no Brasil, “Clockers” e “Freedomland”, ambos pela Rocco, ele permanece meio obscuro por aqui. É possível que isso mude em breve, com sua vinda à Flip e o anunciado lançamento de Lush life por uma editora mais afeita à construção de reputações, a Companhia das Letras. De qualquer maneira, a edição não ficará pronta para a festa. Price será um autor sem livro em Parati. A dificuldade maior que sua obra enfrenta fora de casa, porém, tem tudo a ver com o que James Wood considera sua maior qualidade: o talento para a reinvenção literária de uma fala cheia de gírias, imagens e achados poéticos cria…