Há risco de um autor como Guimarães Rosa ser esquecido ou ficar elitizado? Penso que é o contrário: o que não fica é o que é superficial, fraco e ruim. O dicionário “Houaiss” tem 400 mil palavras. O rádio, a televisão, o jornal, a literatura que se faz hoje não chegam a 20 mil: estão jogando fora 380 mil. Em entrevista (só para assinantes) à “Folha de S.Paulo”, a crítica literária Walnice Nogueira Galvão defende uma causa justa, a permanência de Guimarães Rosa, com o inacreditável argumento acima. Para começar, o “Houaiss” tem apenas “cerca de 228.500” verbetes, segundo a apresentação de Mauro de Salles Villar, da Academia Brasileira de Filologia, um dos diretores de sua equipe editorial. Mas isso não é o mais importante. A lógica quantitativa da autora de “Mínima mímica” (Companhia das Letras), recém-lançada coletânea de ensaios rosianos, me fez pensar num depoimento de Josué Montello sobre Machado de Assis, arquivado na Academia Brasileira de Letras: Certa vez, um mestre meu, Lourenço Filho, resolveu fazer o levantamento do vocabulário do “Dom Casmurro” e teve essa surpresa: não passava de 2 mil palavras. Com essas 2 mil palavras, Machado de Assis conseguira dizer tudo, só não disse –…