Passou a Flip, passou a ressaca da Flip, e eu me pego pensando insistentemente em algo que, no calor da hora, julguei trivial demais para comentar aqui no blog: o limite de quinhentas palavras por dia que o escritor holandês Cees Nooteboom se impõe. Convém deixar claro: o que me impressionou não foi a disciplina de Nooteboom, o fato de que ele se obriga a escrever todo dia, em qualquer estado de espírito. Isso é rotina de escritor. O que me impressinou foi ele escrever tão pouco. “Se por acaso perco a conta e chego a seiscentas palavras, fico nervoso”, disse. Ir além disso, para ele, seria correr o risco de perder qualidade, densidade literária. Fiz umas medições: quinhentas palavras equivalem a cerca de 45 linhas ou 3.000 toques com espaços. Em linguagem de velho jornalista, uma lauda e meia. Mesmo considerando a hipótese – delirante, porque não entendo nada de holandês – de na língua de Nooteboom as palavras serem mais compridas, mesmo que ele use uma única palavra composta para dizer, sei lá, “céu cinzento com nimbos a oeste”, ainda assim parece pouco. Mas se todas as quinhentas forem boas, dá um livro por ano. Dos gordos.