Ao mostrar o casal Barack Obama encarnando os boatos que circulam contra o candidato democrata em setores conservadores dos EUA, a capa da revista “The New Yorker” tenta, pelo exagero da cena, expor tais boatos ao ridículo. Se a estratégia corre o risco de incompreensão que sempre acompanha a ironia, o que ninguém pode negar é que toda boa charge tem isso em comum: agressividade e exagero. Ou o gênero de desenho jornalístico que filtra o noticiário pela lente do humor não teria esse nome. O francês charge, de onde veio nossa palavra, quer dizer apenas carga, mas nesse caso com o sentido de crítica contundente. Trata-se de uma extensão metafórica da acepção militar de ataque – presente numa expressão como carga de cavalaria – adaptada ao vocabulário da imprensa e especialmente ao trabalho dos desenhistas cômicos. O italiano caricatura (inicialmente, ato ou efeito de carregar) partiu do mesmo ponto e chegou a resultado parecido. Tão parecido que é lícito supor que um vocábulo tenha surgido como tradução do outro. Nesse caso, há indícios de que a caricatura veio antes: segundo o Houaiss, o primeiro registro de sua acepção moderna (fins do século 16) aparece quase cem anos à frente…