Não gosto muito de ler teatro. Acho que pouca gente gosta – aquilo é feito para ser encenado, não é? Foi apenas no interesse da pesquisa que fazia para meu novo livro, de tema correlato, que há seis meses mandei a Amazon entregar aqui em casa um exemplar de The Coast of Utopia, a premiada trilogia de Tom Stoppard sobre a geração de intelectuais russos de meados do século 19 em cujas cabeças germinou com força a idéia de uma revolução feita pelas massas. Algum tempo depois, ainda estava lendo o livro quando soube que o dramaturgo inglês de origem tcheca viria à Flip. Meu primeiro pensamento foi: “Que coincidência”. E o segundo: “Que maluquice”. Stoppard é uma presença inusitada por algumas razões. Seu único livro em catálogo por aqui, lançado pela Rocco, é o roteiro do filme-pipoca “Shakespeare apaixonado”, do qual é co-autor – um projeto definitivamente menor, ainda que competente e divertido. Suas peças não são encenadas em nossos teatros, o que talvez faça sentido: jogos intelectualizados e referenciais, tapeçarias em que se juntam fatos históricos, debates filosóficos, personagens reais, as peças de Stoppard são dramas de idéias. Não têm nada de chatas ou cinzentas – seu senso…