Uma das qualidades do decreto de regulamentação dos call centers assinado pelo presidente Lula está numa ausência: o texto não procura banir do discurso dos atendentes o famigerado gerundismo. Quem não o conhece? “Vamos estar lhe enviando uma nova via.” Ao recusar o papel de patrulha da língua, a medida se distancia de um decreto folclórico assinado ano passado pelo governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, proibindo o uso do gerúndio nas repartições públicas. Longe de defender o gerundismo, trata-se de reconhecer que os costumes lingüísticos zombam das tentativas de controlá-los a canetadas. Além disso, o decreto de Arruda confunde gerundismo e gerúndio. O primeiro é um vício de expressão que pode ou não vir a se firmar na língua. O segundo, uma forma verbal usada por Camões que hoje viceja mais no Brasil que em Portugal. Seria absurdo que, combatendo a praga (olha o gerúndio aí), matássemos também a planta. Neologismo ainda não dicionarizado, gerundismo tem sentido pejorativo. Nomeia e ao mesmo tempo critica o modismo que, depois de se firmar na fala burocrática em geral e na do telemarketing em particular, contaminou outros grupos sociais. Muita gente acredita que tenha nascido como tradução literal do inglês. No…