É mais enrolada do que parece a última polêmica “literária” européia, que põe de um lado uma tropa de críticos de língua alemã e do outro, sozinho, o acadêmico e escritor inglês James Hawes, que publicou ontem a biografia “Excavating Kafka”, sobre o escritor tcheco (aqui, em inglês, acesso livre). Sem ler o livro é impossível opinar sobre quem tem razão, se é que alguém tem, mas o resumo do arranca-rabo, em três tempos, é o seguinte: 1. Hawes dá destaque ao fato de Kafka ter sido assinante de revistas pornográficas chiques, algumas, segundo ele, de arrepiar. 2. Os kafkólogos de língua alemã se unem para acusar Hawes de puritanismo, marquetagem e até, de forma que parece um tanto obscura, anti-semitismo. Alegam que as revistas eram adultas, mas traziam imagens estilizadas, “artísticas” e não pornográficas. 3. Hawes contra-ataca falando em “conspiração de censura” e dizendo que seu foco não é bem o gosto de Kafka por pornografia, mas o fato de que gerações de críticos e biógrafos, tendo examinado com lupa cada bilhete banal jamais escrito pelo gênio de Praga na tentativa de decifrar sua personalidade esquisitona, tenha feito silêncio sobre um dado tão suculento. Hmm. Em primeiro lugar, mesmo…