A profusão de recordes batidos nos Jogos Olímpicos de Pequim e sua extensa cobertura põem em evidência uma dúvida de pronúncia que sempre acompanhou esse termo importado do inglês record. Afinal, devemos falar récorde, palavra proparoxítona, como a maioria dos locutores e comentaristas da TV? Ou, seguindo a recomendação de dez entre dez sábios, recórde, paroxítona? Trata-se de um caso clássico em que a língua da vida real vai para um lado e a dos estudiosos para o outro. “Recorde”, estrangeirismo consagrado há décadas em todos os dicionários, pode ser substantivo – com o sentido de marca esportiva, desempenho a ser superado – ou adjetivo: tempo recorde, velocidade recorde. Até aí ninguém briga. A divergência começa na hora de definir a prosódia. Em seu Dicionário de palavras e expressões estrangeiras, Luís Augusto Fischer observa com bom humor que há “duas pronúncias: a que os gramáticos preferem, rre-CÓR-dji, ou a do resto da humanidade, RRÉ-cor-dji”. É mais ou menos isso. Basta substituir, na frase de Fischer, “o resto da humanidade” por “a maioria dos brasileiros” que ela fica perfeita. Em Portugal, os falantes se inclinam por recórde. Uma possível explicação para o descompasso: os portugueses manteriam a pronúncia que record ganhou…