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Deixadinha
Sobrescritos / 18/08/2008

Quando João começou a namorar Letícia, todo mundo apostava numa relação de um mês ou dois, três no máximo. Ficava por aí a média dele. Galinha famoso na rede do Leblon que ambos freqüentavam, João era medíocre no vôlei de praia, mas compensava a insuficiência atlética com uma condição de semicelebridade artística – advinda de sua inclusão numa antologia de jovens contistas, quatro anos antes – para ir ampliando um currículo amoroso que beirava o lendário. Letícia, nova e inexperiente, jogava o fino na areia, com um talento especial para as deixadinhas, mas a verdade é que tinha tudo para ser só mais uma naquele placar. O jogo começou a virar quando, surpreendendo o pessoal da praia, Letícia passou a bater bola com João no campo dele. Nos e-mails que trocavam diariamente, a menina, quem diria, se revelou talentosa também com as palavras. João, que preferia namorar atletas justamente por se saber indefeso diante de intelectuais, acusou o golpe. Ponto a ponto, seu bloqueio foi virando uma peneira. O terceiro mês de namoro passou, veio o quarto. O quinto. O sexto já ia pelo meio quando, ao pé de uma mensagem despretensiosa em que Letícia contava ter dormido mal na…