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Ainda Kafka: a barata que não era
NoMínimo / 20/08/2008

A recente aparição de Franz Kafka neste blog, embora talvez motivada por interesses menores (de um crítico inglês, não meus, como se pode conferir aqui embaixo), teve pelo menos um efeito divertido: o leitor Eric Novello explorou num comentário certa ambigüidade semântica característica do português brasileiro para declarar: Nunca mais verei a barata do Kafka da mesma forma! Claro que a piada seria inviável se Gregor Samsa tivesse virado um besouro. Acontece que virou – e agora estou falando sério. A discussão sobre qual bicho é aquele da novela “A metamorfose” não é brincadeira. No primeiro parágrafo do livro, em que o Samsa insetificado faz sua brusca entrada em cena, Kafka é vago. O original fala em ungeheueren Ungeziefer, que quem conhece alemão – não é o meu caso – garante ser algo como “monstruoso inseto repulsivo”. Em outros pontos da narrativa, porém, ligeiras pistas morfológicas parecem indicar que Kafka se refere a um inseto da família dos coleópteros, sem maiores detalhes além de suas dimensões avantajadas de monstro. Essa família inclui diversos tipos de besouro, joaninhas e vagalumes. Baratas não. Para se ter uma idéia da gravidade dessa questão líterário-zoológica, ninguém menos que Vladimir Nabokov, admirador de “A metamorfose”,…