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Filosofia da (de)composição
NoMínimo / 02/09/2008

Esses dias, enquanto tento pôr um ponto final na narrativa mais longa que já escrevi, tem me vindo à cabeça – ou o pouco que resta dela a essa altura do processo de escrever um romance – a questão da extensão, da duração supostamente ideal dos textos literários. Aquilo que Edgar Allan Poe quantificou com segurança admirável no caso da poesia em torno de cem versos. E fez “O corvo” com 108. Tudo bem, mas – e a prosa? Cem linhas? No mesmo ensaio, o brilhante “A filosofia da composição”, ao qual nunca me canso de voltar, Poe admite que em certos casos (ele cita “Robinson Crusoé”) a prosa pode tirar proveito da longa extensão. Mas acrescenta que isso seria vedado à poesia, que a seu ver sempre perde ao abrir mão da “totalidade ou unidade do efeito” advinda da leitura que se faz de uma só tacada, sem interrupção. Eis enfim a medida de Poe: a capacidade de leitura do leitor. Para o escritor americano, essa capacidade pode ser esticada, pois textos excessivamente curtos reverberam pouco, mas jamais rompida, uma vez que textos longos demais precisam ser lidos em várias etapas e isso atenua seu efeito geral. Aí estaria…