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Sobrescritos / 04/01/2009

O escritor imagina um personagem, também escritor, que à deriva diante de seu tablete de cristal líquido, em algum momento entre 1h15 e 4h30 de uma madrugada insone, descobre-se de repente num blog sem nome onde refulge um texto límpido e profundo como o mar em certos trechos mágicos do litoral, blocos de uma prosa poética que se encrespa, corcoveia, muda de forma enquanto o escritor, fazendo rolar a tela sob a ação de suas pálpebras estateladas, sente lhe subir uma excitação nada menos que sexual por ter desentocado tamanho tesouro, cuja obscuridade naquele endereço longo e cheio de barras só pode ser explicada pelo caos que a internet é, pandemônio capaz de abrigar lado a lado cordilheiras de bobagem e essa estranha jóia em que se fundem o sumo de vinte e cinco séculos e a última novidade petulante, veneno e antídoto, pedra e vento, como se não, de modo algum fosse apenas um sonho infantil o poder de destilar numa combinação de caracteres alfabéticos o ácido que dissolveria a desilusão do escritor, e por trás dela também a do escritor, desilusão com sua arte eunuca, seu talento nauseado, seus colegas oligofrênicos, angústia que explica a insônia desta noite…