“Governo maquia PAC com inclusão de obras antigas”, anunciava a manchete principal do jornal “O Globo” de quinta-feira, 5 de fevereiro. Ilustrando a notícia, uma foto gigante de Dilma Rousseff com maquiagem pesada, penteado de cabeleireiro e colar de pérolas – uma imagem de glamour até então inédito da ministra da Casa Civil, talvez o ponto culminante do processo de “suavização” de sua estampa que, com mira na eleição presidencial de 2010, teve início no fim do ano passado. A graça dessa primeira página está na forma como texto e fotografia dialogam em torno do verbo maquiar, um francesismo que tem tanto a acepção positiva de cobrir de maquiagem com propósitos de embelezamento (sentido ilustrado pelo retrato de Dilma) quanto a negativa de mascarar, falsear (como o jornal afirma que o governo fez com o PAC). Os dois sentidos estão ligados: embelezar e fraudar são ações fronteiriças, separadas pela linha nem sempre muito nítida entre a boa e a má-fé. O curioso é observar que, no idioma em que a palavra nasceu, o primeiro registro do verbo maquiller com o significado de falsificar é de 1815, cerca de um quarto de século antes de surgir, no jargão do teatro, a…