Ditabranda, o polêmico neologismo com que a “Folha de S.Paulo” se referiu ao regime de exceção instaurado com o golpe militar de 1964, é um trocadilho baseado na sonoridade da palavra e não em seu sentido histórico. O adjetivo “dura”, por mais que soe apropriado neste caso, nada tem a ver com ditadura além da sugestão que acidentalmente evoca. O termo existe no português desde o século 16 e veio do latim dictatura, isto é, cargo ocupado pelo ditador – autoridade da Roma Antiga que, em situações de emergência que exigiam medidas extremas, era investida pelo senado de poderes absolutos por um período de até seis meses. Levando-se em conta a curta duração e o fato de não representar uma ruptura institucional, aquilo sim poderia ser chamado de ditabranda. Pelo menos até Júlio César, o último dos ditadores, manobrar como um Hugo Chávez da Antiguidade e se perpetuar no posto até morrer. Isso significa que, do ponto de vista da formação da palavra, ditadura tem mais a ver com termos como cavalgadura, amargura e tortura, nos quais o sufixo -ura atua como formador de substantivos, do que com linha-dura ou cabeça-dura. Mas seu parentesco etimológico é mesmo com o verbo…