Há quem ache que o futebol do passado é que era bom. De quando em quando a gente esbarra com um saudosista. Todos brancos, nenhum preto. Foi uma coisa que me intrigou a princípio. Por que o saudosista era sempre branco? O saudosista sempre branco, nunca preto, dava para desconfiar. E depois, a época de ouro, escolhida pelo saudosista, era uma época que se podia chamar de branca. Os jogadores claros, bem brancos, havia até louros nos times, ia-se ver: inglês ou alemão. Poucos morenos. Os mulatos e os pretos, uma raridade, um aqui, outro ali, perdiam-se, nem chamavam atenção. A prosa hipnoticamente despojada de Mario Filho, talvez o encontro mais feliz entre tom coloquial e expressão artística de toda a literatura brasileira, diz a que veio já nas primeiras linhas de “O negro no futebol brasileiro” (Mauad/Faperj, 4ª. edição, 2003), a épica reportagem-tese do homem que batizou o Maracanã. Ah, mas se o livro lançado em 1947 (e revisto e ampliado em 1964) pelo irmão menos famoso de Nelson Rodrigues não é um romance, o que está fazendo aqui? Hmmm. E quem disse que não é um romance? “O negro no futebol brasileiro” pode – e, acredito, deve –…