A primeira coisa que a parteira notou ao ajudar Michael K a sair de dentro da mãe para dentro do mundo foi que tinha lábio leporino. O lábio enrolado como pé de caramujo, a narina esquerda fendida. Escondeu a criança da mãe por um momento, enfiou o dedo no botãozinho de boca e ficou agradecida de ver que o palato estava inteiro. O começo de “Vida e época de Michael K” (Companhia das Letras, tradução de José Rubens Siqueira), romance de J.M. Coetzee lançado em 1983 e premiado com o Booker, marca também o início da consagração internacional do grande escritor sul-africano.