As faculdades do espírito, denominadas analíticas, são, em si mesmas, bem pouco suscetíveis de análise. Apreciamo-las somente em seus efeitos. O que delas sabemos, entre outras coisas, é que são sempre, para quem as possui em grau extraordinário, fonte do mais intenso prazer. Assim, em tom ensaístico e prometendo prazeres que de fato entregaria, o escritor americano Edgar Allan Poe começava a apresentar ao público em 1841 o francês Auguste Dupin, protagonista do conto “Os crimes da Rua Morgue” (Nova Aguilar, “Ficção completa, poesia e ensaios”, tradução de Oscar Mendes). Detetive amador dotado de uma assombrosa capacidade de observação, análise e dedução, Dupin, que depois disso apareceu em mais dois contos apenas, é a matriz escancarada do inglês Sherlock Holmes, que nasceu quatro décadas depois e acabou muito mais famoso do que ele. Eis um começo menos inesquecível em si do que pelo que inaugurou: a literatura policial moderna.
Que goleada, não? O vexame magnífico que a Bolívia impôs à Argentina no 6 x 1 de quarta-feira merece, claro, a eloqüência desse brasileirismo que ganhou seu primeiro registro em 1958 no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, de Antônio Soares Amora. Mas nem sempre a justeza da palavra é tão evidente. No mesmo dia o Brasil derrotou o Peru por 3 x 0. Goleada? A julgar pelo que disse a certa altura da transmissão da partida o repórter Mauro Naves, da TV Globo, sim. De acordo com a sabedoria não escrita dos torcedores, não. Derivada de gol – que importamos do inglês goal, “meta” –, a goleada nunca teve definição numericamente precisa nos dicionários. É apresentada como “vitória por ampla diferença de gols” (Houaiss), “grande quantidade de gols marcados por uma equipe numa só partida, contra nenhum ou poucos gols da equipe adversária” (Michaelis) ou “vitória por larga margem de gois (sic) ou tentos; enfiada” (Aurélio). Historicamente, como sabe qualquer freqüentador de arquibancada, o piso da goleada sempre foi o 4 x 1 – três gols de diferença, mas quatro marcados. Ou seja: 3 x 0 e 4 x 2 não servem. No entanto, a freqüência com que o placar…
Lobo Antunes, Carlos Fuentes, Atiq Rahimi, Simon Schama, Sophie Calle e, caramba, Gay Talese… Na expectativa de uma das boas edições da curta história da Flip, já reservei a pousada. O preço dá saltos em torno de 20% a cada ano, mas o que se pode fazer?
Em reportagem publicada hoje no Último Segundo do iG, Mauricio Stycer me faz uma pergunta tão boa quanto difícil – e até agora inédita – sobre o papel do pensamento relativista em “Elza, a garota”, um romance feito de meios-tons em que heróis e vilões se confundem. E me faz explicar por que, apesar disso, eu considero o livro anti-relativista. Pena que minha conversa com Carlos Herculano Lopes, publicada ontem em página inteira no jornal “Estado de Minas”, só esteja disponível online para assinantes. Em compensação, está a um clique de distância a resenha generosa que Paulo Polzonoff Jr. publicou em seu blog. E a entrevista para o “Espaço Aberto” de Edney Silvestre e o papo com Maria Beltrão no “Estúdio i” – este com participação de João Paulo Cuenca – já podem ser vistos no portal Globo.com.