Meu querido Zeca, Por ocasião de teu aniversário de dúzia, ocasião tão venturosa quão promissora, endereço-te algumas palavras repletas das mais puras intenções. Teu bisavô não dura um ano; quando muito dois, se calhar, como imagino que saibas. Mas não transporei o Aqueronte naquela barca fatal sem antes deixar-te nesta margem um saquinho com as parcas pepitas que – garimpeiro inábil que fui, mas de longuíssimo curso – me foi dado amealhar. Pois não andam teus pais exultando diante do talento bruto que vislumbram em teus primeiros esforços de expressão literária? Perdoa este velho tão velho, para quem a velhice já é eufemismo: pouco entendo do mundo contemporâneo. Contam-me que pertences a um grupo de vanguardistas precoces chamado, creio, MSN, ou outra dessas siglas que o Zeitgeist favorece. Não sei o que isso possa significar em termos de filiação estética, e confesso que o exemplo textual com que meus netos pimpões ilustraram seu argumento carecia de nexo; talvez lhe faltasse uma página, ou vinte letras, e certamente faltava revisão; será isso, ou meus óculos andam vencidos. Mas pouco se me dá, Zequinha. Só me importa que, tendo submetido por toda a vida esta carcaça e esta moringa à faina inconsútil…