Clique para visitar a página do escritor.
Começos (ainda) inesquecíveis: Gabriel García Márquez

Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Muitos anos depois, quando lhe perguntassem por que o começo de “Cem anos de solidão”, de Gabriel García Márquez (Record, tradução de Eliane Zagury), um dos mais inesquecíveis de quantos possam ser assim chamados, demorou tanto a figurar naquela inesquecível seção, o autor do blog haveria de responder com um sorriso: “Não é óbvio?”. Publicado em 10/9/2007.

Algazarra
A palavra é... / 06/06/2009

“Eu tenho muitos filhos, e toda vez que o pai sai de casa, a meninada faz algazarra.” Foi o que Lula disse na Guatemala sobre os conflitos em seu ministério, centrados na insatisfação do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, com alguns de seus colegas. Depois da declaração infeliz em que comparava a procura de uma caixa-preta no fundo do mar à prospecção de petróleo em águas profundas, a tirada da algazarra representou a volta do presidente à boa forma oratória, uma das chaves de sua popularidade – a capacidade de dar um tom íntimo e familiar às mais cabeludas questões de Estado. Algazarra é uma antiga palavra portuguesa (sua certidão de nascimento traz a data do século 15) vinda do árabe, como tantas outras que compartilham com ela a sonoridade e a idade avançada: almofada, açúcar, armazém, alface, alcachofra, algoz, algodão. Vinda de al-gazara, “gritaria, ruído com ira”, era usada de início com um sentido bélico hoje em desuso: designava os gritos de guerra que os exércitos mouros lançavam no início das batalhas. Não é a esse tipo de algazarra que Lula se refere – embora a imagem de aguerrimento possa agradar a Minc – e sim ao significado…

Oficina literária ensina a escrever?
NoMínimo / 05/06/2009

Algumas questões parecem voar no ar dos tempos. O “Rascunho” que começou a circular nos últimos dias (ainda indisponível online) traz uma longa entrevista comigo em que, entre outros assuntos, o editor Rogério Pereira lança o da eterna dúvida sobre a eficiência das oficinas de criação literária na formação de escritores. Por coincidência, e guardadas algumas proporções, a mesma questão anima um ótimo artigo da “New Yorker” (em inglês, acesso gratuito) publicado ontem pelo crítico Louis Menand. Vamos primeiro à pergunta do Rogério, seguida da minha resposta: Há uma grande quantidade de oficinas de criação literária espalhadas pelo país. O senhor acredita na capacidade destas na “formação” de escritores? Nenhum curso ou oficina jamais vai transformar um não-escritor em escritor, mas pode – nos casos de não-picaretagem, naturalmente, e para isso é preciso pesquisar bem o mercado antes de fazer a matrícula – ajudar a lapidar talentos, além de propiciar uma convivência com seus pares que seja muito produtiva. Por que não? Num esquema mais profissional e institucionalizado, os cursos de creative writing nos EUA podem se gabar de ter algumas estrelas entre seus ex-alunos, como Michael Chabon. No Brasil, ficaram quase lendárias as oficinas de Assis Brasil no Sul,…

O livro proibido de Tezza (final)
NoMínimo / 03/06/2009

Colocado no centro dessa fogueira de paspalhos, faço um apelo: por favor, não me adotem. Não sou um escritor de confiança. Cristovão Tezza, na “Gazeta do Povo”, comentando o caso do seu livro recolhido da rede escolar em Santa Catarina.

E o prêmio de maior perdedor vai para…
NoMínimo / 02/06/2009

Acho difícil entender por que alguém iria querer passar suas horas de leitura na companhia dos virtuosos, dos realizados e dos capazes quando o fracasso é tão mais interessante – e, infelizmente, muito mais comum. Hoje em dia nós os chamamos de anti-heróis (é mais educado), mas para mim eles sempre serão os perdedores da literatura. Gostei desta lista de grandes “perdedores” da ficção, publicada pelo BookForum e elaborada por Mark Sarvas, do blog Elegant Variation. Não conheço a turma toda, mas a julgar por Timofey Pnin, de Vladimir Nabokov, por Alec Leamas, de John Le Carré, e por Tommy Wilhelm, de Saul Bellow, a coisa faz sentido. E antes de perguntar quais seriam, na opinião dos leitores do Todoprosa, os principais candidatos brasileiros ao título, uma pequena questão tradutória: dividir a humanidade entre winners e losers, isto é, vencedores e perdedores, é coisa de americano, sim. O que talvez impeça a palavra de viajar bem, mas não a idéia. Aqui chamamos o loser de fraco, fracassado, pobre-diabo, otário, quem sabe bundão. O tipo nunca foi escasso em nossa literatura, pelo contrário. Trata-se apenas de decidir quem vence a disputa. Talvez o Amaro de “Clarissa”, de Erico Verissimo. Ou o…