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Uma criança no Inferno
NoMínimo / 21/08/2009

Devo a uma repórter que teve recentemente a desfaçatez de me fazer uma pergunta batida – “Qual foi o primeiro livro inesquecível da sua vida?” – o retorno de uma memória poderosa que se encaixa bem na discussão que andou rolando na caixa de comentários do último post, sobre a importância da embalagem e dos apelos extraliterários na descoberta dos livros. Porque foi exatamente isso, uma descoberta, o que eu fiz quando, aos sete anos de idade, decidi subir numa cadeira para alcançar aquele portentoso volume de capa dura na estante de meus pais, chamado “A Divina Comédia”. Calma, não vou dizer aqui que li Dante aos sete anos. Imagino que tenha no máximo passado os olhos pelas palavras, sem nada entender. O que me fisgou – e me fez voltar repetidamente ao livro, anos a fio – foram as ilustrações do francês Gustave Doré (1832-1883), principalmente as do Inferno. O Inferno de Dante segundo a visão gótica e romântica de Doré revelou aos meus olhos um território estonteante de terror e sensualidade. Imagino que o impacto não seria o mesmo para as crianças de hoje, com seu acesso mais ou menos livre a imagens fortes, mas, naquele finalzinho dos…