Todo fim de ano é assim: não sei se é essa contagem regressiva surda que pulsa em cada esquina, ou quem sabe será apenas o calor. O fato é que os pensamentos vão ficando cada vez mais soltos à medida que avança dezembro, esgarçando-se como nuvens ao vento até que, ali em torno do Natal, o estrago está feito: como o fim, de tão aguardado, parece chegar antes da hora, sem contudo trazer ainda o recomeço, instaura-se um limbo em que o non sequitur vira lei universal e já nada leva a coisa alguma – fica tudo espalhado por aí feito milhões de tweets. Deve ser por isso que o pessoal gosta de bolar listas – de melhores, de piores, de presentes, de resoluções, listas de listas de listas. Como se sabe, listas são a maneira mais primitiva – no bom sentido – de organizar o caos. Mas aí você vai atrás do bálsamo das listas e descobre que o aguado “Leite derramado” – que tem algumas páginas brilhantes de entremeio, mas é um tanto contrafeito e bem inferior a “Budapeste”, do mesmo autor – vem sendo eleito o livro do ano no Brasil. Fica confuso. Nesse limbo, até que…