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Curiosidades etimológicas: Presepada
A palavra é... / 27/02/2010

Sempre me intrigou que o presépio, singela representação do nascimento de Jesus Cristo numa estrebaria, tenha tido na língua brasileira filhotes pejorativos como “presepada” (palhaçada) e “presepeiro” (fanfarrão). Vinda do latim praesepium, que quer dizer apenas curral, cercado onde se guardam animais, a palavra “presépio” existe no português desde o século XIV, com sentido exclusivamente religioso. Quem passa mais perto de uma explicação é o etimologista Silveira Bueno. Depois de afirmar que a tradição do presépio foi iniciada por São Francisco de Assis, ele registra no verbete “presepista”, sinônimo menos comum de presepeiro, que a palavra se aplica tanto a quem monta presépios quanto aos “farsantes que tomavam parte nos autos de Natal”. Isso joga uma luz nova sobre uma das acepções de “presepada” no Houaiss: “espetáculo ridículo”. A péssima qualidade dos atores dos presépios vivos, seus prováveis maneirismos, para não mencionar a cenografia e os figurinos toscos – tudo isso pode ter criado as condições para o nascimento de “presepada”. Publicado no “Nomínimo” em 22/12/2006.

Aumenta que isso aí é Monteiro Lobato!
NoMínimo / 25/02/2010

Você já ouviu a voz de Monteiro Lobato? Eu nunca tinha ouvido até a Isabel Pinheiro, todoprosista de longa data, me enviar o link dessa entrevista ao “radiologista” (a piada é lobatiana) Murilo Antunes Alves, da Rádio Record, em 1948. O grande escritor tinha 66 anos, idade avançada para a época, e logo sofreria um derrame fatal. Atenção: se você ainda não ouviu isso, a visita é obrigatória. A entrevista tem outras duas partes, que podem ser acessadas aqui e aqui. Mais do que da voz propriamente dita – meio anasalada e pelo menos uma oitava acima do que suas sobrancelhas me faziam supor – o prazer maior vem da “voz” de Lobato, o tom mordaz em que expressa suas opiniões desiludidas e politicamente incorretas. “Todas as nossas experiências têm fracassado, não há razão para acreditar (no Brasil)… Só os céticos absolutos acertam”. Tudo, porém, sem perder a ternura e a auto-ironia jamais. “É isso o que pensa o velho Lobato com a sua longa experiência acumulada”, sorri. Do prazer interiorano de comer formiga torrada – que tem “um cheirinho que eu não digo do que é, para não escandalizar o público” – à conjuntura internacional do pós-guerra – “o…

Editora processa blogueira: pode plagiar esta notícia
NoMínimo / 23/02/2010

A tradutora e blogueira Denise Bottmann, do site Não Gosto de Plágio, precisa de ajuda. Caçadora mais ou menos solitária de picaretas editoriais, está sendo processada pela editora Landmark, que pede ao juiz indenização mais a retirada de seu blog do ar – informa Alessandro Martins, do blog Livros e Afins. Tudo por ter denunciado que a tradução de “Persuasão”, de Jane Austen, lançada pela Landmark com a assinatura de um de seus proprietários, Fábio Cyrino, seria praticamente um xerox de uma antiga – e fraca – tradução portuguesa da lavra de Isabel Sequeira, até em seus numerosos erros. A blogueira Raquel Sallaberry, do Jane Austen em Português, também está sendo processada pela editora. Caso a denúncia seja mesmo na mosca, como os exemplos citados em seu blog indicam (tem até uma mesma gralha cômica, “átrio” virando “trio” em ambos os textos), Denise terá exposto mais uma vez o golpe de requentar traduções sem pagamento de direitos, bandeira de subdesenvolvimento cultural que infelizmente está longe de ser novidade no Brasil. Se você também não gosta de plágio, ajude a espalhar a notícia.

‘Sobrescritos’: orelha, orelhas
NoMínimo / 22/02/2010

Não, o livro de papel não morre tão cedo, e a prova disso é que está nascendo mais um. Com o bicho na gráfica e o lançamento carioca marcado para a noite de 10 de março, uma quarta-feira, na Travessa de Ipanema, tenho o prazer de adiantar aqui o texto da orelha de “Sobrescritos” (Arquipélago Editorial), assinado por Arthur Dapieve: As pessoas coçaram atrás da orelha. Depois, porém, as pessoas coçaram atrás da orelha de novo. Por fim, as pessoas ficaram com o lado de trás da orelha inteiramente escalavrado. Quando os primeiros Sobrescritos apareceram, enigmáticos, na coluna Todoprosa, de Sérgio Rodrigues, no bom e velho site NoMínimo, as pessoas suspeitaram que eram minicontos à clef, dispostos a esculhambar de vez o mundo das letras. Quem seria o “escritor de barba espessa e fama rala?”, alarmaram-se alguns. E o inesquecível Lúcio Nareba, “lenda da blogosfera literária nacional”, quem haveria de ser?, sussurraram outros. Felizmente, houve também quem percebesse de cara que todas essas figuraças, incluindo Demóstenes Bastião, o que escrevia em preto e branco, ou o latinista Cecilio Giovenazzi, “o maior memorialista do onanismo no Ocidente”, habitavam era a interseção entre a capacidade de observação e o talento para fabular…

Curiosidades etimológicas: Ianque
A palavra é... / 20/02/2010

Yankees, go home! Hoje usada indiscriminadamente, e muitas vezes com sentido negativo, como sinônimo de nativo dos EUA, yankee é, curiosamente, uma das palavras mais misteriosas da língua inglesa. Ninguém sabe de onde veio, embora ao longo da história não tenham faltado teses etimológicas – algumas cômicas. Acredita-se que, de início, yankee (que aportuguesamos com a grafia “ianque”) era um termo usado pejorativamente pelos holandeses de Nova York para designar os habitantes de Connecticut. Em seguida, os colonizadores britânicos o adotaram como sinônimo de qualquer colono americano. Em sinal de desafio, mais tarde foi o pessoal da terra que reivindicou orgulhosamente o nome, num percurso semelhante ao cumprido pela palavra “brasileiro”, que de início também tinha conotações depreciativas. Hoje, os dicionários nos informam que o sentido mais restrito de “ianque” é habitante da Nova Inglaterra, na região Nordeste dos EUA, que inclui entre outros o referido estado de Connecticut. Na Guerra de Secessão, porém, ianques eram todos os nortistas – que venceram. Isso significa que, numa das acepções restritas da palavra, o texano Bush não era exatamente um deles. Mas faz tempo que qualquer americano é chamado de ianque. Confuso? Ainda não vimos nada. Segundo o Merriam-Webster etimológico, em que…

Não confie nesses caras
NoMínimo / 19/02/2010

Algo estranho aconteceu com os narradores não confiáveis em meados do século 20: eles se tornaram um pouco mais confiavelmente não confiáveis, e muito mais vis. Em fins do século 19 eles tendiam a ser pouco dignos de crédito por estarem escondendo alguma coisa sobre si mesmos ou não conseguirem enxergar a verdade, em geral devido a algum tipo de fraqueza psicológica. No entanto, à medida que o modernismo caminhou para o pós-modernismo e todos nos tornamos muito mais cínicos, esperava-se que os narradores em sua maioria fossem complicados. A falta de confiabilidade tornou-se inseparavelmente ligada à maldade – para não falar na duplicidade, no delírio e até na loucura. Naturalmente, o alargamento dos parâmetros também tornou os narradores não confiáveis muito mais divertidos, com o humor compensando com frequência seu lado negro. O desafio era tornar esses traiçoeiros narradores em primeira pessoa ao mesmo tempo intrigantes e divertidos. O escritor Henry Sutton faz no “Guardian” uma boa reflexão (em inglês) sobre o clássico tema do narrador não confiável, além de apresentar uma também interessante lista pessoal dos dez principais livros da língua inglesa cuja prosa é conduzida por um deles: “Lolita”, “A volta do parafuso”, “O apanhador no campo…

Plágio ou sampling?
NoMínimo / 18/02/2010

Onde termina o sampling e começa o plágio, eis a questão. Que não é inteiramente nova: pouca gente deve se lembrar, mas em maio de 2006 uma estudante de Harvard chamada Kaavya Viswanathan (leia post da época aqui) foi do céu ao inferno quando descobriram que seu badaladíssimo romance de estréia era na verdade uma colagem de diversas obras. A novidade do caso recente (em inglês) da alemã Helene Hegemann, 17 anos, de roteiro inicialmente parecido, é que a parte do inferno nunca veio. Seu romance de estréia vende mais que nunca e até ganhou um prêmio de prestígio depois que as acusações de plágio começaram a pipocar. Detalhe: Hegemann foi esperta – ou cândida? – o suficiente para incorporar à própria tessitura de seu livro o atualíssimo tema do sampling, do reprocessamento de retalhos alheios, do imediato domínio público em que cai ou deveria cair qualquer criação artística na era da informação digital. “Não existe a tal da originalidade, de qualquer maneira: apenas a autenticidade”, declarou ela em nota oficial. O que eu penso de tudo isso? O terreno é movediço, mas eu diria que – como comprova o chamado “caso dos escritores Jerominho” – o recurso pós-moderno do…

Conto de carnaval: A máscara
NoMínimo / 15/02/2010

Todo cuidado é pouco com essa máscara, viu, Vi? Não, sua boba, empresto com prazer porque você sabe que é a minha neta preferida, e além disso tem outras coisas, sinto um arrepio só de imaginar que a minha máscara negra veneziana nariguda vai se soltar por essas ruas outra vez depois de meio século guardada numa caixa de chapéu com a tampa afundada, devia andar triste, a coitadinha, olha só esses olhos vazados caídos, tão merencórios. Ah, esses olhinhos viram coisa, Vi. Claro que não era como agora, era melhor, era pior. Diferente: eu nunca fui de folia e nem podia ser, sempre fui certinha. Seu avô, sim, aquele se esbodegava inteiro, saía no sábado pra voltar na quarta-feira que nem na música da camisa listrada, só que a fantasia dele, infalível, era de arlequim – conhece a música da camisa listrada? Ainda toca isso? Em vez de tomar chá com torrada ele tomou parati, não, imagine se vai tocar. Agora é diferente, pior, melhor, depende. Por exemplo, quando você casar, duvido que agüente o que eu agüentei. Não agüenta, Vi, mudou demais. Para melhor, nesse ponto eu acho que foi para muito melhor, porque se o seu marido…

Curiosidades etimológicas: Gandaia
A palavra é... / 13/02/2010

“Gandaia” – vadiagem, esbórnia, orgia, pândega, bandalha, folia – é palavra antiga e misteriosa. O Houaiss registra duas teses principais sobre sua origem: Bluteau (1713) registra assim: “Gandaya, Gandáya (como quando se diz) Andar à gandáya. He andar buscando no lixo, & nas enxurradas, ferrinhos, & outras cousas, que a agoa leva”. E ainda: Corominas, s.v. gandaya ‘especie de redecilla para el cabello’, ‘tuna, vida holgazana’, dá como do cat. gandalla, de igual sentido, “probablemente porque los bandoleros catalanes de los SS. XVI y XVII llevaban el cabello recogido com gandalla“, acrescentando que o étimo é incerto… (Legendas: D. Raphael Bluteau é autor do clássico “Vocabulario Portuguez e Latino”, publicado de 1712 a 1720; Joan Corominas é um importante filólogo catalão do século XX; redecilla é “redezinha”; tuna, vida holgazana, “vadiagem, vida folgada”.) Silveira Bueno dá crédito a Corominas. Antônio Geraldo da Cunha se cala. O Houaiss acrescenta que Nei Lopes, paladino da ascendência africana de palavras duvidosas, sugere origem banta. E Antenor Nascentes, depois de registrar teses variadas – inclusive a que deriva a palavra do árabe gandur, “peralta” – aumenta o volume do delírio: Candaya será, quem sabe?, uma aproximação arbitrária da Catai misteriosa e desejada, e coloca-se…

O ‘Babelia’ teve um filho
NoMínimo / 12/02/2010

O suplemento cultural (com ênfase em literatura) do jornal espanhol “El País”, chamado Babelia, que sai todo sábado, é um dos melhores do mundo no gênero e um velho conhecido, por meio de incontáveis links aparecidos aqui, dos leitores do Todoprosa. A novidade é que este mês a equipe que o produz estreou um blog coletivo, Papeles Perdidos, que desde já é parada obrigatória no roteiro da boa navegação literária.

It’s only rock and hoax!
NoMínimo / 11/02/2010

Duas notícias recentes no “Guardian” (em inglês, acesso gratuito) são mais que suficientes para, com o auxílio de algumas gotas de predisposição apocalíptica, fazer o sujeito calcular que as fronteiras entre realidade e ficção estarão definitivamente apagadas ali pela altura de setembro de 2019. A primeira nota fala do vexame sofrido pelo filósofo pop francês Bernard-Henri Levy ao dar crédito em seu último livro a um certo colega e conterrâneo quase esquecido, Jean-Baptiste Botul, que teria sido um crítico implacável de Kant. O problema é que Botul, criador do “botulismo”, nunca existiu, é só uma piada do jornalista e satirista Frédéric Pagès. O outro post informa que o jornalista grego Taki, da revista inglesa “Spectator”, escriba de certa popularidade entre os conservadores europeus, alega ter sido correspondente de J.D. Salinger, de quem teria “centenas de cartas”. “O único homem em quem confio e que jamais encontrei pessoalmente é Taki, o correspondente grego da ‘Spectator’”, teria escrito o famoso eremita numa delas (não fica claro por que Salinger achou necessário explicar ao próprio destinatário a identidade do destinatário). A “Spectator”, segundo o “Guardian”, não confirma a história do sujeito. Hoax – pegadinha, fraude – não é novidade no mundo das letras,…

Delete
Sobrescritos / 10/02/2010

Ele hesita, dedos de velho datilógrafo repousando sobre o asdfg e o çlkjh, polegares suspensos. Ele se vê hesitando, dedos de velho datilógrafo, emblema de sua idade, repousando com suavidade de pluma sobre o asdfg e o çlkjh do teclado negro, polegares suspensos a milímetros da barra de espaço. Ele decide escrever sobre se ver hesitando escrever, e então os dedos datilógrafos ganham uma súbita descarga elétrica e se põem a cutucar ritmicamente o teclado negro, polegares batendo surdão a intervalos impenetráveis. Ele sabe que os intervalos impenetráveis podem ser condizentes com algum padrão oculto, mas sabe também que, mesmo arbitrariamente, apontar esse padrão só será possível mais tarde – tarde demais? – em retrospecto, sendo por ora mais sábio se embalar na impenetrabilidade do sussurro produzido pelos pequenos tambores de plástico. Em sincronia com os comandos que os emblemas de sua idade percutem no teclado negro coberto de símbolos brancos, símbolos negros surgem na tela branca. Ele pára e lê os seis parágrafos que escreveu, incluindo este. Hesita mais uma vez. Torce os músculos faciais de tal modo que fica parecendo um nó de madeira, uma orelha, à luz hepática da tela onde a metáfora do nó precede sua…

Está rindo de quê, ô?
NoMínimo / 08/02/2010

“A comédia me parece ser tudo o que resta para um escritor trabalhar no mundo atual. Drama, romance, épico, tudo isso de alguma forma parece corresponder a outras épocas, a outras formas de ver o mundo.” A declaração do inglês Martin Amis, em entrevista que fiz com ele para o “Jornal do Brasil” em 2001, é categórica demais para não conter muito de exagero. Mesmo assim, nunca mais a tirei da cabeça. De vez em quando me divirto imaginando como se sairia, julgada por critério tão absoluto, a literatura brasileira contemporânea e sua irmã, a crítica, que parecem ter se esquecido por completo da lição de Machado e – num país basicamente absurdo, o que é mais absurdo ainda – tentam empurrar o humor e a ironia para fora de seus domínios, como se fossem recursos estéticos necessariamente menores. Amis, claro, é um provocador profissional. Parecia usar a mesma régua do humor, além de um certo ressentimento pelo Nobel alheio, quando declarou recentemente que o “depressivo” J.M. Coetzee “não tem talento” – o que é ridículo. Mas Amis é também um escritor inquieto e ambicioso que a meu ver, mesmo quando quebra a cara, dá um jeito de quebrá-la de…

Curiosidades etimológicas: Arco-da-velha
A palavra é... / 06/02/2010

O leitor Daniel Brazil pergunta de onde vem o arco-da-velha, hoje presente quase exclusivamente na expressão “do arco-da-velha”, que significa “inacreditável, inverossímil, fantasioso”. Bem, arco-da-velha é simplesmente um dos nomes tradicionais do arco-íris. É sinônimo de arco-da-aliança, arco-celeste, arco-da-chuva e arco-de-deus. Como todos esses termos, anda em desuso. E por que da velha? O que uma senhora idosa tem a ver com o bonito fenômeno meteorológico? “Ainda não se deu explicação suficiente”, anota o filólogo Silveira Bueno, para em seguida apresentar uma explicação: “A maioria pensa que seja em referência do fato bíblico: após o dilúvio, quando Noé oferecia um sacrifício a Deus, apareceu o arco-íris, sinal do termo da velha aliança e do começo da nova aliança”. Embora no cristianismo, diferentemente do que afirma Bueno, a expressão “nova aliança” seja empregada em relação ao Novo Testamento (a de Noé era, portanto, a velha), é verdade que as alianças referem-se aos pactos que, segundo as Escrituras, Deus estabelece com os mortais. Registre-se que arco-da-aliança é um dos sinônimos de arco-da-velha. Quanto ao sentido de coisa inverossímil, fantástica, bem – mesmo que se deixe de lado a própria história de Noé, o arco-íris, com sua beleza impalpável e fugaz, sempre se…

Gabo, o político
NoMínimo / 04/02/2010

Pode-se argumentar que, aos 82 anos de idade, a reputação literária do colombiano Gabriel García Márquez está estabelecida. Sua cotação na Bolsa de Valores Literários deverá sofrer oscilações ao longo do tempo, como a de qualquer escritor que não seja simplesmente esquecido, mas poucas vozes – como a do exilado cubano Guillermo Cabrera Infante, um desafeto político morto em 2005 – deram-se ao trabalho de lamentar seu “folclorismo e exotismo realmente desnecessários”. Cem anos de solidão é um monumento cravado na história da literatura, ponto. E, como seus três ou quatro principais livros depois dele mantêm o sarrafo lá no alto, o solo sob os pés do escritor parece firme. No caso de Gabo, como o chamam os amigos próximos (e os jornalistas de qualquer distância), a reputação que falta fixar é a do homem público, a do “político” – papel que o ex-menino pobre e franzino de Aracataca passou a representar de modo praticamente profissional depois de se consolidar como celebridade planetária com o Nobel de literatura de 1982. Foi essa frente política – ou seriam fundos? – que a crítica internacional atacou com maior apetite na notável biografia autorizada que o inglês Gerald Martin publicou em 2008, após…

Mudando (mas não muito) de assunto
NoMínimo / 03/02/2010

Não me lembro de outra época em que a imprensa literária mundial tenha se ocupado tão pouco de… literatura. No lugar dela, fala-se de: 1. Tecnologia do livro digital: iPad x Kindle x etc.; 2. Política da difusão de literatura: a Amazon brigando de foice com a editora Macmillan, que aproveitou a nova concorrência da Apple para impingir ao grande varejista um aumento no preço do livro digital, enquanto os independentes vislumbram um futuro de ligação direta entre autor e leitor em que gigantes como Amazon e Macmillan virarão pó; 3. A nova estrutura legal que necessariamente emergirá dessa confusão, com o Brasil (onde ainda é proibido copiar uma obra intelectual mesmo para uso próprio, num pen-drive) discutindo uma reforma da legislação de direitos autorais; 4. Numa apoteose de tudo isso, uma certa metafísica da literatura, a perda de status cultural da ficção, o futuro da leitura de fôlego, o potencial que o meio digital apresenta para uma literatura “aberta e colaborativa”, o papel evolutivo da necessidade humana de se enredar em narrativas e outros esoterismos do gênero. São todos assuntos fascinantes, complexos, atualíssimos, dos quais o mundo inteiro e este blog, que não é autista e também respira o…

A rotina do adeus
NoMínimo / 01/02/2010

Depois de J.D. Salinger, em rápida seqüência, vão-se o crítico literário Wilson Martins (nascido em 1921) e o escritor e jornalista argentino Tomás Eloy Martínez (1934). Está ficando cada vez mais difícil entender a filiação estética desse coletivo de bruxas. Pero que las hay, las hay.