Pode-se argumentar que, aos 82 anos de idade, a reputação literária do colombiano Gabriel García Márquez está estabelecida. Sua cotação na Bolsa de Valores Literários deverá sofrer oscilações ao longo do tempo, como a de qualquer escritor que não seja simplesmente esquecido, mas poucas vozes – como a do exilado cubano Guillermo Cabrera Infante, um desafeto político morto em 2005 – deram-se ao trabalho de lamentar seu “folclorismo e exotismo realmente desnecessários”. Cem anos de solidão é um monumento cravado na história da literatura, ponto. E, como seus três ou quatro principais livros depois dele mantêm o sarrafo lá no alto, o solo sob os pés do escritor parece firme. No caso de Gabo, como o chamam os amigos próximos (e os jornalistas de qualquer distância), a reputação que falta fixar é a do homem público, a do “político” – papel que o ex-menino pobre e franzino de Aracataca passou a representar de modo praticamente profissional depois de se consolidar como celebridade planetária com o Nobel de literatura de 1982. Foi essa frente política – ou seriam fundos? – que a crítica internacional atacou com maior apetite na notável biografia autorizada que o inglês Gerald Martin publicou em 2008, após…