Eu quase nunca concordava com o crítico Wilson Martins. Ao longo de muitos anos, talvez se contem nos dedos de uma mão as ocasiões em que terminei de ler uma resenha sua sem ter com ela alguma divergência grave, um ou mais pontos em que nossos credos estéticos pareciam água e óleo. O que demorei mais a descobrir foi que, por baixo de toda aquela discussão, havia uma concordância maior, um pacto sem a qual ela, a discussão, cairia no vazio. Martins ousava falar da literatura de dentro, seu pensamento era inteiramente feito de literatura. Ele não partia do livro para chegar a outro lugar, nem vinha de outro lugar para abordar o livro. Morava ali, e quando saía era para inspecionar a relação do livro com… outros livros. Avesso a sistemas, a “verdades” importadas de campos fora das letras, arriscava o pescoço a cada resenha. É o que torna sua “História da Inteligência Brasileira” tão caótica e tão interessante: o pulso de vida real. A literatura para Martins nunca era sintoma, era o que importava, como deve mesmo ser, se você tem a pretensão de se declarar crítico literário. Quando o relativismo cultural começou a tentar nos convencer –…