Um dos maiores prazeres da rede mundial de computadores é, no meio da barafunda de informações – que, dizem, logo vai nos afogar – encontrar aqui e ali convergências e cruzamentos, nós de concordância ou de tensão. Quando ligamos os pontinhos para destilar algum sentido da geléia geral, pagamos tributo à etimologia da palavra “inteligência” e adiamos mais um pouco a tal submersão. Isso acaba de ocorrer com a idéia de trabalho remunerado x expressão artística, que de repente parece estar por toda parte. Em outras palavras, como a necessidade de “ganhar a vida” influencia a produção desses bens simbólicos que, quase sempre, têm valor de mercado risível demais para garantir sua dose diária de nutrientes. Longe de ser uma discussão bizantina, trata-se de algo que qualquer escritor – com exceção dos ricos de berço ou de baú, uma fração tão pequena que chega a ser desprezível – precisa enfrentar desde cedo e provavelmente pelo resto de sua carreira. Um bom emprego público foi, por décadas a fio, a solução da cultura brasileira para o problema. Mas o serviço público já não é o que costumava ser. Atualmente, o dilema dos escritores tem sido posto com maior freqüência em termos…