No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às 5h30m da manhã para esperar o navio em que chegava o bispo. Tinha sonhado que atravessava um bosque de grandes figueiras onde caía uma chuva branda, e por um instante foi feliz no sonho, mas ao acordar sentiu-se completamente salpicado de cagada de pássaros. “Sempre sonhava com árvores”, disse-me sua mãe 27 anos depois, evocando os pormenores daquela segunda-feira ingrata. A seção Começos inesquecíveis estava de férias desde outubro do ano passado, quando seu primeiro ciclo foi fechado com a eleição, pelos leitores do blog, da abertura de “Ana Karenina”, de Leon Tolstoi, como o mais memorável entre os começos memoráveis da literatura. Um dos concorrentes de Tolstoi na ocasião foi, é claro, Gabriel García Márquez com a primeira frase de “Cem anos de solidão”. Considerado por muitos vítima de uma injustiça, faz sentido que o colombiano ganhe agora mais uma chance de entrar no jogo, na segunda edição da enquete que o futuro nos reserva, e o privilégio de inaugurar a nova temporada de aberturas literárias brilhantes do Todoprosa. O começo de “Crônica de uma morte anunciada” (Record, tradução de Remy Gorga, filho) pode não ser tão sensacional quanto…