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Salman Rushdie para cabeças e corações
Vida literária / 06/08/2010

E a Flip teve sua primeira mesa propriamente flípica. Ao fim da entrevista concedida por Salman Rushdie ao jornalista Silio Boccanera, agora há pouco, o público que lotou a Tenda dos Autores estava cheio de sorrisos. Ali estava, enfim, um peso-pesado da literatura mundial, o homem que ganhou recentemente o Booker dos Bookers por seu livro de estreia, “Os filhos da meia-noite”. Ali estava também um personagem político importante (ainda que à sua revelia), no cenário da relação conflituosa entre o Islã e o Ocidente. E ali estava ainda um pai fazendo o lançamento mundial do livro infanto-juvenil que escreveu para seu filho mais novo, “Luka e o fogo da vida”, com direito a uma breve – e constrangida, mas certamente terna – presença do filho no palco. Resultado: um show redondo, do tipo que faz o público correr para os restaurantes com a cabeça excitada e o coração aquecido. No contexto da Flip, não dá para ser melhor que isso. Rushdie falou do livro que está escrevendo sobre o período em que esteve ameaçado de morte pela fatwa, criticou pesadamente o filme “Quem quer ser um milionário” e não se aborreceu sequer quando, lendo a última pergunta enviada por…

Nada de Gilberto Freyre: na mesa do Oriente Médio, quem apanha é Lula
Vida literária / 06/08/2010

Eles evitam o rótulo de escritores politicos – ela diz que sua literatura é “existencial” e ele, que seu foco é a moral humana –, mas a verdade é que a política foi tema quase onipresente na mesa “Promessas de um Velho Mundo”, que reuniu a iraniana Azar Nafisi e o israelense Abraham B. Yehoshua, sob a mediação de Moacyr Scliar. A política e o presidente Lula, alvejado de ambos os lados com críticas e ironias. “O conflito entre Israel e Palestina é o mais antigo do mundo moderno, tem 120 anos. Precisamos de ajuda da comunidade internacional para resolver a questão e poder ajudar tanto palestinos como israelenses. Talvez Lula… Ele já esteve lá, em Israel, ele estava sorrindo, estava todo feliz”, disse Yehoshua, lembrando a viagem feita por Lula este ano a Israel, quando o petista deixou de visitar pontos considerados importantes para a história israense, por lembrarem o Holocausto. Antes, Azar havia lembrado a hesitação de Lula em intervir na questão de Sakineh Ashtiani, iraniana condenada à morte por apedrejamento por um suposto adultério. Lula acabou oferecendo asilo politico – negado pelo Irã – após uma campanha para que tomasse uma attitude a respeito do caso. Eu…

A hora dos desenraizados
Vida literária / 06/08/2010

A mesa “Chá pós-colonial” reuniu hoje à tarde dois escritores britânicos assumidamente desenraizados: Pauline Melville, nascida na Guiana, e William Boyd, nascido na África (no que mais tarde seria Gana), concordaram sobre o valor que tem para quem faz literatura a sensação de não pertencer a lugar nenhum. “Quando me perguntam de onde eu sou, dá vontade de responder: ‘Bem, de quanto tempo você dispõe’?”, disse Boyd, autor de “Tempestades comuns”. “Meus pais são escoceses, nasci na África, morei na França, não me sinto inglês. Isso é uma benção para um escritor, porque você olha para o mundo com mais distanciamento, mais curiosidade e talvez com mais desconfiança também.” Além disso, o elogio do humor e da sátira como ingredientes legítimos e desejáveis na receita da chamada literatura séria contribuiu para aproximar os dois autores. Mesmo assim, a mesa transcorreu morna – para o que certamente contribuiu o fato de ambos serem pouco conhecidos do leitor brasileiro – até Pauline, ex-atriz e autora de “A história do ventríloquo”, contar, a pedido do mediador Ángel Gurria-Quintana, o episódio real em que foi atacada por um psicopata em sua casa, em Londres, passando cerca de três horas de mãos amarradas e sob…

Acadêmicos relembram controvérsias de Gilberto Freyre
Vida literária / 06/08/2010

O homem que defendeu a miscigenação brasileira, dando a ela um valor positivo, foi também o homem que elogiou Salazar, ditador que impôs um regime autoritário de mais de 30 anos a Portugal. Essa e outras controvérsias foram relembradas na mesa “Além da casa grande”, que reuniu, na Flip, o africanista Alberto da Costa e Silva, a historiadora Maria Lucia Burke e socióloga Angela Alonso, sob a mediação da antropóloga Lilia Schwarcz. “Freyre parecia ter uma visão romantizada da abolição da escravatura, como se ela tivesse ocorrido sem conflito social nenhum”, disse Angela Alonso. Para justificar a admiração de Freyre por Salazar, Costa e Silva disse que o ditador português sabia conquistar os intelectuais pela vaidade: ele se preparava, lendo a respeito da produção de um pensador, antes de se encontrar com ele. A conversa também foi temperada por menções ao estilo único de Freyre, que escrevia como um romancista e pesquisava como um bisbilhoteiro, nas palavras do próprio. “Ele enumera imagens para transmitir ao leitor a sensação da mudança da sociedade colonial para a moderna, no Brasil. Entram aí receita de bolo, jazigos, anúncio de chapéu, anúncio de dente de ouro, modinhas”, afirmou Angela. “É o que ele chama…

O Darnton analógico e o Darnton digital
Vida literária / 06/08/2010

A ideia de dividir a participação do historiador Robert Darnton na Flip em duas – nas mesas “O livro: capítulo 1”, ontem à noite, e “O livro: capítulo 2”, hoje de manhã – parecia boa, não só como forma de organizar a grande massa de informação trazida pelo convidado mas também como espelho de uma linha histórica que a presente revolução tecnológica quebra inevitavelmente em pré e pós: a primeira conversa foi dedicada à história do velho códex, o livro de papel, e a segunda voltada para os desafios impostos pela cultura digital. Bem, funcionou exatamente assim. O único problema é que os espectadores podem ter saído com a impressão de que o tempo do livro de papel era uma chatice e que toda a diversão vai começar agora, tal foi a disparidade de temperatura entre a primeira mesa, uma conversa de ares acadêmicos mediada pela historiadora Lilia Schwarcz, e a segunda, uma entrevista conduzida pela jornalista Cristiane Costa. Diretor da Biblioteca de Harvard e pesquisador especializado no Iluminismo francês, Darnton teve ontem à noite a companhia de outro historiador dedicado à investigação da leitura, Peter Burke. Não por acaso, os dois estavam loucos por fazer pontes entre o passado…

Isabel Allende se defende da fama de best-seller
Vida literária / 06/08/2010

“Se meus livros vendem, é porque escrevo pensando no público, herança do jornalismo.” Foi assim que Isabel Allende, 68, justificou, sem que tivesse sido questionada a respeito, sua fama de best-seller. Vender muitos livros, num mercado difícil como o literário sempre levanta suspeitas sobre a qualidade da obra. Na mesa “Veias abertas”, realizada nesta quinta na Flip, com mediação do jornalista Humberto Werneck, Isabel evocou o jornalismo para explicar seu desempenho comercial e a ditadura de Augusto Pinochet, que tirou da direção do Chile o primo do pai, Salvador Allende, para narrar sua investida na literatura. ”Escrever foi uma maneira de recuperar memórias do Chile e ressuscitar os mortos”, disse, referindo-se ao seu livro mais famoso, “A Casa dos Espíritos”, baseado nos horrores da ditadura do Chile, país que teve de abandonar em 1973. Apesar de o livro, que marcou sua estreia como escritora, ter se tornado um fenômeno, com direito a adaptação em Hollywood, ela não se sente pressionada por ele. Antes, afirma se sentir grata pelas possibilidades que ele lhe abriu. O que a oprime, isso sim, é a solidão do trabalho de escrever. “É um trabalho solitário e inseguro, cheio de dúvidas, e sinto que as minhas…