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Crumb e Shelton: uma noite para esquecer
Vida literária / 07/08/2010

Os cartunistas americanos Robert Crumb e Gilbert Shelton foram os protagonistas da página mais constrangedora da história da Flip, na mesa “A origem do universo”, que terminou há pouco, com mediação do jornalista Sérgio Dávila. Conversa mole e entrecortada de dois hippies velhos, pontuada de fracas e recorrentes piadas sobre o tamanho dos glúteos das mulheres brasileiras, bastaram dez minutos para deixar claro que a escalação dos cartunistas, por mais importantes que seus nomes sejam na cultura underground americana, tinha sido um equívoco. E tudo piorou quando, com metade do tempo transcorrido e numa aparente tentativa de salvar a noite, a organização do evento fez subir ao palco a mulher do astro principal, a também cartunista Aline Crumb. Foi quando o mediador e Shelton – que, apesar de meio surdo, ainda tentava timidamente dirigir o papo para algum lugar menos desprovido de sentido – se viram excluídos do que virou um bate-boca doméstico. Doses maciças de vergonha alheia no sábado à noite, o “horário nobre” do evento. Ei, pessoal: talvez não seja má ideia escalar apenas escritores, afinal.

Ferreira Gullar recapitula vida e obra
NoMínimo / 07/08/2010

Teve tom biográfico a mesa “Gullar, 80”, protagonizada pelo maranhense Ferreira Gullar no fim da tarde deste sábado, em Paraty. Numa conversa com o especialista em teoria literária Samuel Titan Jr., Gullar relembrou o início da carreira, com o livro Um Pouco Acima do Chão, que não reedita por considerar muito parnasiano, sua contribuição para o surgimento do movimento de poesia concreta, com que romperia depois, seu engajamento no neoconcretismo e o nascimento do Poema Sujo, o exílio, em Buenos Aires, quando as ditaduras grassavam na América Latina e ele se achava “sem saída, vendo as pessoas desaparecerem”. O Poema Sujo foi uma forma de “escrever o que restava dizer.” Segundo Gullar, o Poema Sujo foi escrito num jorro, mas ficou incompleto, porque a inspiração acabou. Até que um dia ele conseguiu talhar os versos finais do poema – a poesia, como ele mesmo diz, não se pode controlar, ela surge quando quer, ela vem do imprevisível. Numa visita à Argentina, Vinicius de Moraes ouviu do dramaturgo Augusto Boal, em um jantar, que Gullar havia feito um texto longo e que não o mostrava a ninguém. Vinicius insistiu em conhecer o poema e fez com que o maranhense o recitasse….

A literatura jornalística de William Kennedy e Colum McCann
NoMínimo / 07/08/2010

O processo criativo da escrita foi o tema proeminente da mesa “Albany, Nova York e outras Aldeias”, que pôs cara a cara o americano William Kennedy e o irlandês Colum McCann, neste sábado, na Flip. Jornalistas de formação, ambos fazem da investigação – da reportagem – o caminho para criar personagens e histórias. “Uma das minhas personagens era uma prostituta do Bronx, e minha mãe ficou curiosa para saber de onde eu a conhecia”, contou McCann. “Mas eu não a conhecia, claro, eu a criei a partir de meses de conversa com prostitutas reais, com policiais, com pessoas nas ruas. Eu pesquisei até ouvir a voz dela, até sentir que ela existia, que ganhava vida.” O irlandês disse que recomenda às pessoas que escrevam sobre o que não conhecem – o que as forçaria a investigar e encontrar surpresas. “Para escrever sobre Albany, eu comecei a entrevistar o meu pai, a minha mãe. Comecei a perceber como a minha cidade era grande, maravilhosa”, disse Kennedy, famoso pelo chamado ciclo Albany, uma série de sete romances ambientados na cidade natal do escritor. Kennedy destacou, porém, diferenças entre o processo de feitura do jornalismo e da literatura. “Ainda sou repórter, e sempre…

Eagleton cobra de Rushdie posição firme contra islamofobia
Vida literária / 07/08/2010

O crítico literário inglês Terry Eagleton não fugiu da polêmica com Salman Rushdie (veja o texto abaixo), mas minimizou o papel do autor de “Os versos satânicos” no time de intelectuais liberais que, segundo ele, teve reação de “pânico” ao desafio imposto pelos radicais islâmicos e vem descambando para a islamofobia. Um time que ele escala com Christopher Hitchens e Martin Amis no ataque, reservando a Ian McEwan e Salman Rushdie papeis secundários. “Não me entendam mal, o Islã radical é um fenômeno muito, muito feio, que explode crianças em nome de Alá”, disse Eagleton, crítico literário de formação católica e marxista, na mesa “Andar com fé”, mediada pelo jornalista Silio Boccanera hoje de manhã. “Há obviamente diferenças individuais no grupo que eu mencionei, mas o que me deixa alarmado é que a linha que separa a crítica ao radicalismo islâmico da islamofobia ficou muito tênue e tem sido cruzada com frequência, especialmente no caso de Martin Amis e Christopher Hitchens. Gostaria que Salman Rushdie e outros dissessem em voz mais alta e clara que veem uma distinção entre o Islã e os radicais do Islã, em vez de agirem como se a tradição ocidental fosse absolutamente livre de barbaridades.”…