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O velho escritor não lê as notícias
Vida literária / 01/09/2010

O velho escritor, sobrevivente de incontáveis guerras de panelas fumegantes, é um cara tão descrente que, quando lhe recomendaram a engraçadíssima resenha do novo livro de Jonathan Franzen feita em vídeo pelo crítico do “Washington Post”, Ron Charles, disse apenas: “Grunf”. O velho escritor, com seus diplomas de escolas estéticas opostas empilhados no fundo da gaveta de baixo da cômoda do quarto de empregada, anda tão desiludido com esse papo de literatura que não se animou a tomar conhecimento da lista dos dez finalistas do principal prêmio nacional da categoria. Só resmungou: “Hmpf”. O velho escritor já foi um inflamado – e incompreendido – defensor do hibridismo entre gêneros populares e eruditos como o melhor caminho para o novo, mas não demonstrou interesse sequer quando lhe informaram que jovens escritores de fantasia, terror e ficção científica estão brotando país afora feito cogumelos alucinógenos. Limitou-se a grunhir: “Ahgã”. O velho escritor, que aos 25 anos foi saudado por um importante crítico hoje esquecido como “nossa maior promessa pós-regionalismo”, está inteiramente surdo e oitenta por cento cego. O sinal mais significativo de que ainda não morreu é o estremecimento que sente na alma ao recordar o modo como Quincas, o vira-lata que…