Um livraço chegou às prateleiras no início deste mês: “68 contos de Raymond Carver” (Companhia das Letras, 712 páginas, R$ 54,00). O aumentativo irregular se justifica por uma combinação de três fatores: Primeiro: um dos grandes mestres do conto no século 20, o americano Carver (1938-1988) tem pela primeira vez a parte mais substancial de sua obra reunida por aqui num só volume, dos textos pouco “carverianos” da juventude aos que escreveu em seus últimos anos de vida e que só chegaram ao livro postumamente, passando pelos 12 contos de sua obra-prima “Catedral”, de 1983. Segundo: a tradução caprichada de Rubens Figueiredo, também ele contista e um prosador que cultiva a secura do estilo, é fiel até a última vírgula ao lirismo contido do original. Terceiro: a excelente introdução de Rodrigo Lacerda condensa em apenas quinze páginas tudo o que o leitor pouco familiarizado com Carver (ou que só conhece seu universo por tabelinha com o filme “Shortcuts – Cenas da vida”, de Robert Altman, baseado em algumas de suas histórias) precisa saber para situar esse egresso dos cursos de creative writing, nascido numa família de trabalhadores braçais, alcoólatra e eterno desajustado, na linha evolutiva de um gênero pouco comercial…