É uma percepção mais ou menos generalizada que nunca houve no mundo tanta gente escrevendo a sério, isto é, não necessariamente escrevendo bem, mas com suficiente investimento emocional na atividade para sonhar com alguma medida de glória literária. Quantificar o fenômeno é praticamente impossível, claro, mas não creio que essa percepção esteja errada, por mais desconcertante que seja conciliá-la com o evidente declínio de prestígio social pelo qual passa a literatura há um punhado de décadas. Na falta de métodos mais rigorosos – como a inclusão da questão no censo, por exemplo: “Quantos banheiros tem a casa? Quantos escritores?” – talvez se possa tomar como ponto de partida um cálculo meio maluco feito por Alix Christie, ela própria uma ficcionista inédita, para a revista More Intelligent Life: existiriam em todo o mundo dez milhões de pessoas escrevendo ou tentando escrever romances. O número é uma invenção, mas sustentado por uma tosca matemática. Duzentos e cinquenta mil novos romances são publicados anualmente no planeta, dos quais cem mil em inglês. Isso representa, por sua vez, talvez um quarto dos manuscritos que os agentes tentam emplacar. Os agentes, como os escritores sabem, aceitam apenas uma pequena proporção dos trabalhos que lhes são…