Bons ou ruins, antenados ou sem noção, criteriosos ou politiqueiros, todos os grandes prêmios literários têm um vício de origem. Estão para a literatura como a decoração de shopping está para um certo espírito de Natal: têm visibilidade e movimentam a ciranda dos interesses comerciais, mas passam longe de captar a essência da coisa. Tal convicção sempre levou este blog, em seus quatro anos e meio de existência, a oscilar entre o comentário breve e o silêncio significativo diante dos prêmios nacionais, mesmo reconhecendo seu papel na divulgação de livros e autores. Ocorre que essas cerimônias já fazem os tambores soar em alto volume por toda parte, restando assuntos mais relevantes a tratar se o seu negócio é literatura, esse nicho rarefeito, e não mercado editorial ou outros temas periféricos. O Jabuti, então, pouco deu as caras por aqui. O mais tradicional de nossos galardões vem sendo também, de forma consistente, o menos artisticamente sério. Mas a celeuma em torno da premiação de “Leite derramado”, de Chico Buarque, que a princípio julguei conveniente submeter ao mesmo tratamento, chegou tão longe que altera a equação. Não porque tenha algo a ver com mérito literário: o último romance do grande compositor –…