O que envelhece e perde vigor se torna solto e mais livre: quando o público do romance do século 19 se deslocou para o cinema, foram possíveis as obras de Joyce, de Musil e de Proust. Quando o cinema foi suplantado como meio de massa pela televisão, os cineastas do “Cahiers du Cinéma” resgataram os velhos artesãos de Hollywood como grandes artistas; agora que a televisão começa a ser substituída maciçamente pela web, valorizam-se as séries televisivas como forma de arte. Logo, com o avanço das novas tecnologias, os blogs e os velhíssimos emais e as mensagens de texto serão exibidos nos museus. Que lógica é esta? Só se torna artístico – e se politiza – o que caduca e está “atrasado”. Esta iluminação do escritor e crítico argentino Ricardo Piglia, garimpada num texto que o Babelia publicou no último sábado, tem brilho tão intenso que provoca uma sensação de ofuscamento. Para dissipá-lo, seria necessário que Piglia desenvolvesse a ideia de que só pode haver arte no que é “atrasado” – o que ele, preso ao formato leve de um diário, não faz. Assim, resta-nos especular. Vê-se logo que não se trata, como pode parecer à primeira vista, de um…