Minha recente experiência como jurado de um concurso nacional de contos rendeu há cerca de um mês a formulação, aqui no blog, do Princípio da Incerteza de Rodrigues. Achei que ficaria nisso, mas estava enganado. Da exaustiva tarefa de ler mais de 900 contos em dois meses pode-se destilar também um alerta que me parece útil a aprendizes do ofício literário: cuidado com histórias que começam com o personagem abrindo os olhos em sua cama de manhã. Por quê? Acaso será impossível escrever algo bom com esse início? Claro que não, como prova “A metamorfose” de Kafka. Mas aqui não estamos tratando da exceção – que, no caso, é notável justamente pela brutalidade com que estilhaça o clichezão do despertar antes mesmo do fim da frase, por meio do “inseto monstruoso” – mas de uma regra. Uma regra ridiculamente difundida. Deve-se evitar que a narrativa comece com o personagem abrindo os olhos em sua cama porque, em primeiro lugar, narrativas desse tipo são legião – e que escritor quer se confundir desde a primeira linha com o tumulto indiferenciado do mundo? Não é só isso. Na grande maioria das vezes, fica evidente que não há uma boa razão para que…