A morte do escritor argentino Ernesto Sabato (1911-2011) no último sábado, a menos de dois meses de completar cem anos, motivou os elogios fúnebres de praxe. Pena que o necrológio, esse gênero cheio de superlativos que precisa dar ao leitor a ilusão de que o redator tem os olhos marejados, não seja bom condutor de inteligência e senso de perspectiva histórica. É porque Sabato merece ambos que o artigo publicado ontem no jornal espanhol “El País” pelo escritor argentino Jorge Fernández Díaz, sob o título “Os claro-escuros do túnel” (em espanhol, acesso gratuito), se torna mais notável na exposição dos fatores que levaram o autor de “Sobre heróis e tumbas” a morrer com seu prestígio literário em queda livre. Para resumir os argumentos de Díaz, enunciados no trecho abaixo, são dois os inimigos da reputação de Sabato. Um é estético-mundano, o outro é político. Um é de direita, o outro é de esquerda. Ambos são poderosíssimos: Jorge Luis Borges e o kirchnerismo. Literária ou não, jagunçagem é sempre um assunto triste, mas mantê-la na sombra do não-dito só lhe agrava o potencial de injustiça. Quem pode garantir saber o que dirá a posteridade, que para Sabato mal começou? Como Díaz,…