Na mesa mais divertida da Flip, como estava previsto, João Ubaldo Ribeiro, 70 anos, contou histórias, cunhou frases de efeito, fez piadas consigo mesmo e com o entrevistador – seu amigo e também escritor Rodrigo Lacerda – e, de forma surpreendente, ousou falar mal do intocável Guimarães Rosa, que já foi apontado como influenciador de “Sargento Getúlio”, um de seus livros mais conhecidos. Em compensação, furou também o balão mitológico em torno de sua própria obra-prima, o romance “Viva o povo brasileiro”, ao dizer que a motivação para escrevê-lo foi apenas a de “fazer um livro grosso”. A última pergunta da noite, encaminhada por alguém do público, foi um anticlimax que, paradoxalmente, funcionou: “Qual é a importância da literatura na vida das pessoas?” Resposta: “Longos anos de afeto nos unem, Rodrigo Lacerda, pra que eu possa lhe dar uma resposta apropriada”. Seguiram-se aplausos de pé numa Tenda dos Autores lotada, com uma chuva de assobios e gritinhos pontuando a evidência de que, tendo passado anos brigado com a Flip, um dos maiores escritores brasileiros vivos estava fazendo falta em Paraty. Abaixo, uma lista de seus melhores momentos: “Em primeiro lugar, acredite se quiser, eu jamais tinha chegado nem perto de…
“O cinema não é uma arte superior aos quadrinhos”, disse Joe Sacco, astro solo da mesa iniciada ao meio-dia, que terminou por ser tão informativa quanto agradável. Onde se lê cinema, pode-se ler também literatura, jornalismo e fotografia, linguagens com as quais ele dialoga em sua importante, ambiciosa e original obra de HQ. Nascido em Malta em 1960 e criado nos Estados Unidos, Sacco é hoje o maior nome do jornalismo em quadrinhos, autor de livros como os que escreveu sobre a questão palestina, entre eles “Notas sobre Gaza” e “Palestina: uma nação ocupada”. Entrevistado pelo jornalista Alexandre Agabiti Fernandez, que conduziu bem a conversa, apesar de certa tendência à prolixidade, Sacco não fugiu de nenhuma das perguntas e falou sobre seu método de trabalho, suas influências e até da ocasião em que, intimidado pelo peso do jornalismo americano tradicional, se autocensurou ao fazer um trabalho para a revista “Time”. “Pensei demais em como a ‘Time’ diria certas coisas e acabei insatisfeito com o resultado”. Abaixo, um apanhado de suas declarações: Vantagens e desvantagens dos quadrinhos como veículo de jornalismo: “O que eu faço é jornalismo, e como tal precisa ter precisão. Mas com quadrinhos você pode viajar no tempo…