“Habitante irreal”, de Paulo Scott – Atolada num ambiente besta que se assemelha a uma guerrinha entre fiéis e infiéis (existe ou não existe, é divina ou é uma fraude, vamos à missa ou não vamos?), a literatura brasileira contemporânea corre o risco de nem se dar conta de que acaba de ganhar um livraço. Acerto de contas com os sonhos e desilusões de uma geração, o romance de Scott revela-se um cruel espelho político-social de impasses coletivos e, no caminho oposto, um objeto que se quer tão xamânico quanto a bizarra máscara construída pelo personagem Donato, o “índio mais não índio do qual já se teve notícia”, com o propósito de dar voz aos mortos. (Leia mais..) “Diário da queda”, de Michel Laub – Sem grandiloquência e acomodadas confortavelmente no arco da narrativa, ideias grandiosas tornam notável o novo romance de Laub. Cobrindo três gerações, desde a história do avô do narrador em Auschwitz, e apontando com comedida esperança para uma quarta, “Diário da queda” é uma pequena joia ficcional que, ao tratar sem temor ou reverência a pesada herança da literatura pós-Holocausto, adiciona uma dimensão histórica universal à costumeira obsessão do autor com o passado e esmiúça de…