Assolado por uma sensação de perda de tempo toda vez que abre “Em busca do tempo perdido”? Em busca de uma razão utilitária para ler – com perdão da palavra – ficção? Bem, a executiva americana Anne Kreamer também estava, até que descobriu uma série de pesquisas que associam a leitura de ficção literária com “inteligência emocional”, empatia, capacidade de imaginar o outro e se adaptar a situações novas, eficiência no trabalho em equipe – e, como consequência de tudo isso, maiores chances de descolar bons salários no mundo corporativo, especialmente na era da globalização. O artigo (aqui, em inglês, no blog da Harvard Business Review) vale mais como curiosidade do que como guia de comportamento para futuros executivos. Por um lado, o que Anne Kreamer afirma não é muito diferente de algo que já virou lugar-comum entre letrados, uma espécie de último reduto de “relevância social” da ficção num mundo em que ela perdeu centralidade: aquilo que Amós Oz chama de “antídoto contra o fanatismo”, a “virtude moral” de exercitar sistematicamente a imaginação de tudo que ultrapassa o círculo limitado do ponto de vista individual do leitor. (O mesmo vale para histórias contadas em filmes, peças de teatro etc.?…